Valor Econômico – A agenda ambiental ganha relevância como requisito na contratação de obras de infraestrutura e transporte, assim como para atração de novos atores que buscam oportunidades de investimentos e para ampliação do ecossistema de financiamento dos projetos. Trata-se de uma das tendências emergentes que impactarão o setor nos próximos anos, ao lado de inovação tecnológica e aperfeiçoamento das concessões e das parcerias público-privadas (PPP), identificadas por empresas de consultoria.
Projetos alinhados à “infraestrutura verde”, que equilibrem retorno financeiro com sustentabilidade ambiental, têm sido uma exigência das empresas interessadas em investir no setor, diz Tatiana Gruenbaum, sócia-diretora líder do segmento de infraestrutura da KPMG. Estudos da consultoria destacam o potencial da descarbonização e da transição energética para atração de recursos financeiros.
Resiliência da infraestrutura existente é outra tendência com potencial para despertar o interesse para o desenvolvimento de projetos. Como os ativos atuais não estão preparados para lidar com eventos climáticos extremos, aportes expressivos terão que ser feitos para adequá-los à nova realidade climática, afirma Paulo Uebel, sócio-líder para governo e setor público da consultoria EY Brasil.
A inovação tecnológica surge como aliada para projetos alinhados à “infraestrutura verde”. Segundo Fernanda Tauffenbach, sócia-líder de infraestrutura e capital projects da Deloitte, a inteligência artificial (IA) tende a ser incorporada para melhorar desde a concepção até a operação dos ativos, enquanto a tecnologia de gêmeos digitais – representação virtual do ambiente físico – permite simular a fase de planejamento de projetos e sistemas preditivos avançados podem auxiliar decisões. “Você consegue ter acesso a dados históricos para tomar decisões de manutenção que antecipam possíveis riscos de colapsos do ativo”, diz.
Os investimentos em infraestrutura cresceram nos últimos anos, assim como a participação de novos entrantes nos leilões, como resultado do esforço de estruturação das concessões e de captação de recursos financeiros. Mas os aportes, que representam em torno de 2% do PIB, que ainda estão aquém das necessidades do país, diz Gruenbaum, da KPMG, citando um estudo do Banco Mundial que aponta um país emergente precisa investir cerca de 5% a 7% do PIB.
O Brasil experimentou também uma evolução dos investimentos privados, que saltaram de R$ 123,6 bilhões em 2020 (de um total de R$ 158,6 bilhões) para 212,1 bilhões no ano passado (de um total de R$ 260,6 bilhões), segundo a Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib). A inciativa privada deve responder por cerca de 70% do montante de R$ 277,9 bilhões previsto para este ano, de acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI).
O aperfeiçoamento das concessões e das PPPs é apontado como principal responsável pelo aumento da participação da iniciativa privada – muitas vezes por meio de consórcios entre empresas nacionais e fundos de investimento estrangeiros – nos projetos de infraestrutura. “Os contratos são mais elaborados e colaborativos, o permite uma melhor visualização do retorno e que traz segurança jurídica”, diz Tauffenbach, da Deloitte.
A multiplicidade de agentes de financiamento é outra tendência que deve impactar o setor nos próximos anos. O BNDES tem sido umas fontes de recursos para projetos sustentáveis, ao lado de outras instituições públicas e do orçamento da União. A avaliação, contudo, é que há oportunidade para maior participação do mercado de capitais nos financiamentos. As captações podem ser feitas também no exterior, por meio de instrumentos como debêntures de infraestrutura e green bonds. “É possível contar com uma cesta de financiamento de projetos de infraestrutura”, assinala Uebel, da EY Brasil.
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