Folha de S. Paulo – A pré-estreia do Expresso Mantiqueira, trem que percorre trilhos que no passado interligaram São Paulo e Minas Gerais e que teve papel relevante na Revolução Constitucionalista de 1932, foi marcada pela realização de 15 viagens em apenas dois dias. A procura foi vista como sucesso pela associação que está recriando a ferrovia, que já projeta viagens mensais.
A ferrovia Minas e Rio teve sua construção iniciada em 1880 e foi inaugurada quatro anos depois. A extensão total do trecho entre Cruzeiro, no Vale do Paraíba, e Passa Quatro (MG) é de 35 quilômetros, o que inclui o Túnel da Mantiqueira, de 998 m de extensão e que foi um campo de batalha na revolução de 93 anos atrás.
Pesquisadores apontam o registro de centenas de mortes de combatentes na região, inclusive a do tenente-coronel Fulgêncio de Souza Santos, então comandante do 7º Batalhão da Força Pública de Minas Gerais.
O túnel era estratégico por ser o meio de transporte de tropas para regiões de conflitos e por ter sido bloqueado por uma locomotiva no lado paulista com o objetivo de impedir o avanço de tropas inimigas. Coronel Fulgêncio batizou a estação na cidade mineira, restaurada em 2004.
Dirigente da ABPF (Associação Brasileira de Preservação Ferroviária) na regional Sul de Minas, Bruno Crivelari Sanches afirmou que a procura de turistas no último final de semana foi muito acima da expectativa, o que já motivou programar novas viagens para os dias 19 e 20 deste mês.
“Provavelmente teremos uma agenda mensal. Por enquanto não teremos agendas semanais como os demais trens [da ABPF], vamos ver como vai evoluindo”, afirmou.
A ABPF é a responsável pela recuperação da ferrovia, trabalho que já incluiu desenterrar cerca de dois quilômetros de trilhos da linha principal na área urbana de Cruzeiro. Não há prazo para a conclusão das obras, feitas com recursos próprios da associação e parcerias.
Do lado mineiro, cerca de 10 quilômetros de Passa Quatro até o túnel estão em funcionamento, com o Trem da Serra da Mantiqueira, e agora há 6 quilômetros na mesma situação no lado paulista.
Quando a restauração alcançar o túnel, conectará a ferrovia com o trecho que já funciona na cidade mineira. Falta reconstruir 18 quilômetros de ferrovia, limpar todo o leito, trocar 28.500 dormentes, instalar 114 mil pregos, remover barreiras e recompor aterros.
O trem parte, por enquanto, da estação central de Cruzeiro (a 219 km de São Paulo) e segue até a estação Rufino de Almeida, distante seis quilômetros, no pé da Serra da Mantiqueira, após o primeiro túnel da ferrovia, o que totaliza um roteiro inicial de 12 quilômetros (ida e volta).
O dia 9 de julho marca o início da Revolução Constitucionalista, revolta que São Paulo organizou contra o governo de Getúlio Vargas (1930-1945). Os paulistas queriam uma nova Constituição para o país, o que Vargas não admitia.
A data é considerada feriado estadual desde 1997, quando Mário Covas (1930-2001), então governador, assinou o projeto de lei 9.497.
Depois de deixar de fazer parte da Minas e Rio, a ferrovia integrou a Rede Sul Mineira de Viação, a Rede Mineira de Viação, a Viação Ferréa Centro-Oeste e a Rede Ferroviária Federal, até ser desativada no começo dos anos 1990.
CRONOLOGIA DA REVOLUÇÃO
3.out.1930
É deflagrado o movimento que levou o gaúcho Getúlio Vargas ao poder. Ele assume um governo provisório depondo Washington Luís da Presidência da República
17.fev.1932
Os grandes partidos de São Paulo criam a Frente Única Paulista, que exigia nova Constituição para o país
23.mai
Quatro estudantes são mortos durante um protesto contra Vargas em São Paulo; de suas iniciais surge a sigla MMDC
9.jul
Militares antecipam a deflagração da mobilização, marcada para 14 de julho, pegando aliados de surpresa
22.ago
Primeiro combate aéreo no país, em Cruzeiro: dois aviões paulistas enfrentam dois aviões federais
12.set
O governo ocupa o porto de Santos, sob bloqueio desde o início da revolta, mas os combates seguem até dia 24
2.out
As tropas paulistas se rendem ao governo Vargas; líderes do movimento vão para o exílio
3.mai.1933
São realizadas eleições no país para a escolha da Assembleia Nacional Constituinte, demanda dos paulistas
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