Setor privado não pode investir em tudo, diz Abdib

O aumento da
participação privada na infraestrutura é uma ótima notícia, mas precisa vir
acompanhado da expansão do investimento público. A avaliação é do presidente da
Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), Venilton
Tadini, que não vê a iniciativa privada como a solução para todos os problemas
da infraestrutura brasileira.

Na
quarta-feira, 17, o Estado mostrou que a equipe de Jair Bolsonaro (PSL), líder
nas pesquisas eleitorais, estuda expandir ferrovias, rodovias e aeroportos
principalmente com recursos privados, sem colocar mais dinheiro do governo,
além do que já está previsto no Orçamento.

Tadini
explica que hoje há um estoque muito grande de ativos nas mãos do Estado e que
dependem de recursos públicos para sua manutenção. Um exemplo é o setor
rodoviário, cujas estradas estão em “pandarecos”. Há três ou quatro anos, o governo
investia R$ 20 bilhões no setor e hoje investe R$ 11 bilhões, diz o executivo.
“Nesse ritmo, é difícil manter a qualidade das rodovias – muitas delas sem
pavimentação. Nesse caso, não vejo como atrair capital privado para investir.”

O que Tadini
quer dizer é que nem todos os ativos de infraestrutura têm retorno suficiente
para remunerar a iniciativa privada nem por meio de Parcerias Público-Privadas,
em que há contrapartida do Estado. “Em todos os países do mundo, o setor
público tem participação relevante nos investimentos de infraestrutura, aqui
não pode ser diferente.”

Para o
presidente da Abdib, que representa os investidores do setor, não há dúvida que
a iniciativa privada tem de aumentar sua participação no setor. No ano passado,
diz ele, do 1,7% do Produto Interno Bruto (PIB) investido em infraestrutura, 1
ponto porcentual veio do setor privado. A expansão desses números, no entanto,
depende de medidas importantes para melhorar o ambiente de negócios.

“Se tivermos
segurança jurídica, estrutura adequada de financiamento e agência reguladoras
de qualidade, vamos aumentar nossa participação. Mas o razoável é elevar em
40%”, diz Tadini, que também vê uma escassez de projetos para atrair a
iniciativa privada. “O que temos hoje é o estoque levantado pelo PPI (Programa
de Parcerias de Investimentos). Mas precisamos de quase R$ 300 bilhões por ano
de investimentos.”

O presidente
da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic), José Carlos Martins,
afirma que, no momento, o Brasil precisa fazer o que dá para fazer. E o
primeiro passo é retomar as milhares de obras paradas País afora. Ele afirma
que o novo governo terá de tomar medidas relevantes para elevar o apetite da
iniciativa privada e compensar, em partes, a falta de dinheiro público para
investir em infraestrutura. “Sem segurança jurídica, os investidores vão exigir
retornos maiores para compensar o risco. E quem vai pagar é a sociedade. Mas eu
não estou disposto a pagar mais caro por isso.”

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