As surpresas
positivas para os produtores brasileiros de soja na safra que está chegando ao
fim e as perspectivas de demanda aquecida nos próximos meses voltarão a motivar
um expressivo aumento da área plantada com o grão no país na temporada
(2018/19), cuja semeadura terá início em setembro.
Com a
rentabilidade em alta graças ao tombo da colheita na Argentina e à disputa
comercial entre Estados Unidos e China, fatores que geraram altas de preços e
prêmios nos últimos meses, analistas passaram a projetar que o aumento da área
será de até 1,5 milhão de hectares.
Segundo a
Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), foram semeados 35,1 milhões de hectares
de soja no ciclo 2017/18, ante 25 milhões em 2011/12. Como nas últimas safras,
a expansão deverá acontecer sobretudo em áreas antes dedicadas a pastagens,
ainda que áreas protegidas também fiquem mais suscetíveis a desmatamentos
ilegais.
Se a recente
guinada dos preços já justifica as previsões mais otimistas para o próximo
plantio, a expectativa de que a demanda pela soja permaneça firme na safra
2018/19, mesmo com o arrefecimento da disputa sino-americana, corrobora a
tendência.
Segundo o
Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), as exportações brasileiras do grão
alcançarão 72,3 milhões de toneladas em 2018/19, 1 milhão a menos que em
2017/18, mas patamar ainda elevado, quase 10 milhões de toneladas superior ao
do ciclo 2016/17.
Em parte, a
previsão do USDA encontra suporte nas previsões do próprio órgão para a área
plantada com soja nos EUA em 2018/19 – 36 milhões de hectares, 1% menos que em
2017/18. “A gente vai entrar em mais um ano-safra apertado, com déficit
global de soja entre 2 milhões e 3 milhões de toneladas. E isso deve sustentar
a demanda e, consequentemente, os preços”, diz Guilherme Belotti, analista
de agronegócios do Itaú Unibanco.
Nesse
contexto, a cereja do bolo é o câmbio, atualmente muito mais vantajoso para os
exportadores que no início deste ano e que já vem engordando os lucros de
produtores e tradings. E isso em um momento de retração dos prêmios pagos pela
soja brasileira nos portos do país, até por causa do armistício de Washington e
Pequim.
“De
qualquer forma, o patamar de prêmios registrados em 2017 não foi ruim, ficou
acima da média dos últimos cinco anos”, diz Ana Luiza Lodi, analista da
INTL FCStone. Mas os picos de quase US$ 2 por bushel (medida equivalente a 27,2
quilos) como os registrados recentemente no porto de Paranaguá, reflexo da
disputa entre EUA e China e EUA, já ficaram para trás.
No front
doméstico, a demanda também está em ascensão. Segundo Ana Luiza, com a quebra
de safra na Argentina as compras do grão para processamento aumentaram no país.
“Há uma janela aberta para exportações de farelo de soja, e os EUA não
conseguem ampliar muito a produção, uma vez que as indústrias do país já operam
quase no limite”.
Projeções da
Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) apontam para
embarques de 17 milhões de toneladas de farelo de soja em 2018, quase 20% mais
que em 2017.
“Todo
esse cenário em 2017/18 elevou a margem operacional do produtor em Mato Grosso
de 29%, cálculo no início da safra, para 36%”, afirma Victor Ikeda,
analista do Rabobank. Segundo ele, o valor atual dos contratos futuros da soja
com entrega para 2019 indica que uma margem operacional para o produtor
mato-grossense, com custos já fixados, da ordem de 38%.
Assim, em
Mato Grosso, que lidera a produção da oleaginosa no Brasil, a primeira
estimativa do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea/Famato)
para a área plantada em 2018/19 aponta para um aumento de 1,2%, para 9,6
milhões de hectares.
De acordo
com Ikeda, do Rabobank, também haverá expansão da área plantada na região
conhecida como Matopiba – confluência entre Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia
– e no Pará. “Há espaço para crescer nessas regiões. Deveremos ver
bastante área de pastagem virando lavoura”, diz.
Segundo Luiz
Stahlke, assessor de agronegócio da Associação de Agricultores Irrigantes da
Bahia (Aiba), a área com soja no Estado deverá crescer, no mínimo, 3% em
2018/19 ante o ciclo atual. “Esse aumento é avanço sobre áreas novas.
Ainda é cedo para estimar a área de migração entre culturas”, diz.
Na Bahia, o
aumento da produção também deverá refletir incremento de produtividade. De
acordo com o assessor da Aiba, em 2016/17 a safra de soja rendeu 62 sacas de 60
quilos por hectare no Estado, média que deverá chegar perto das 65 sacas por
hectare no ciclo corrente. “Aqui no Estado, o produtor deverá investir
mais para melhorar a produtividade do que em áreas novas. Temos visto
isso”, afirma.
– Fonte: http://www.valor.com.br/agro/5545891/area-plantada-de-soja-voltara-aumentar
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