Europeus analisam transporte gratuito

Em
diferentes cidades da Europa, prefeituras e administrações regionais estão
estudando neste momento – e a sério – uma hipótese até há pouco considerada
impensável: a gratuidade do transporte coletivo. A exemplo do que ocorre em 38
cidades francesas, um projeto vem sendo analisado na capital, Paris, para
abolir as catracas de metrôs e ônibus, ao mesmo tempo em que a administração
busca fórmulas para compensar as perdas financeiras com a gratuidade de
diferentes modais.

Na França,
as cidades que já adotaram a gratuidade têm em comum o porte médio – para os
padrões locais. São municípios de menos de 100 mil habitantes, com exceção de
três dentre eles: Dunkerque, o mais célebre, na fronteira com a Bélgica,
Aubagne e Niort. Em Dunkerque, a experiência deu certo, e os coletivos são
gratuitos. O objetivo da prefeitura é claro: reduzir a presença de automóveis
nas ruas e, com isso, a poluição e os custos correlatos em saúde pública.

A iniciativa
também vem sendo cada vez mais observada de forma atenta por prefeitos e
ministros dos Transportes em outros países. Projetos-piloto também existem em
Estônia, República Checa, Reino Unido, Suécia, Alemanha, Bélgica, Dinamarca,
Espanha, Finlândia, Islândia, Polônia e Romênia.

O desafio,
no caso de Paris e de outras cidades de maior porte, como Clermont-Ferrand, é
encontrar uma compensação para o valor que se deixa de arrecadar. Para a
prefeitura parisiense, o valor em questão é de
2,8 bilhões/ano (o equivalente a R$ 10,7 bilhões) embolsados com
vendas de passagens, que representam cerca de 30% do custo total do sistema.

O problema é
que pode ser apenas o início da fatura, que poderia chegar a
6 bilhões (R$ 27,9 bilhões) em razão do aumento do número de passageiros. O fluxo maior
obrigaria a aumentar a frequência dos metrôs, logo implicando custos
trabalhistas elevados.

Em Paris, o
aumento da demanda é assunto sensível, pois parte da rede já enfrenta a
saturação em horários de pico, tornando a capacidade de absorção de um fluxo
adicional de passageiros limitada. Em Aubagne, o fluxo de passageiros triplicou
desde o início da gratuidade. Além disso, as experiências realizadas em cidades
de menor dimensão indicam um aumento de riscos de vandalismo e destruição do
patrimônio, segundo Yves Crozet, economista especializado em Transporte.

Para arcar
com os custos, uma das alternativas seria a adoção de um pedágio urbano, como o
já existente em Londres.

 

Hipóteses

Apesar das
adversidades, o tema vem sendo estudado a pedido da prefeita de Paris, Anne
Hidalgo. Entre as hipóteses estão a gratuidade total, a liberação de catracas
durante o dia, a exclusão de turistas, que teriam de seguir pagando, ou ainda a
liberação de pagamento por critérios sociais de renda.

Para
determinar o modelo e o impacto financeiro, um grupo multidisciplinar de
pesquisadores, sob o comando do Laboratório Interdisciplinar de Avaliação de
Políticas Públicas (Liepp), do Instituto de Estudos Políticos de Paris
(Sciences Po), recebeu em março passado a incumbência de examinar pistas de
financiamento alternativo.

“É
preciso avaliar se existe um modelo econômico viável”, ponderou Anne
Hidalgo, deixando claro que não se compromete com a medida se não houver
compensações ao erário. “Até aqui, nada nos diz que seja possível.”

 

Catraca
livre em Agudos

A diarista
Simone Oliveira Carvalho, de 45 anos, ganha R$ 1,6 mil por mês fazendo faxina
em residências. Ela toma ônibus para ir e voltar do trabalho e teria um gasto
mensal de R$ 228 com transporte se não morasse em Agudos, cidade de 37 mil
habitantes, no centro-oeste do Estado de São Paulo. Lá, o transporte coletivo
público é gratuito para todos, inclusive para quem chega de fora, há 15 anos.

“Nós
viramos exemplo quando houve a mobilização (nacional em 2013), mas já era uma
coisa fazíamos havia uma década”, diz o prefeito Altair Francisco Silva
(PRB), ele mesmo um usuário eventual do serviço.

Macatuba,
cidade vizinha, com 17 mil habitantes, se inspirou em Agudos para criar o
serviço em 2004. Em Maricá, no Rio, com 153 mil habitantes, a gratuidade do
transporte começou em dezembro de 2014, mas ainda é parcial.

 

Fonte: https://metronews.com.br/egeral/europeus-analisam-transporte-gratuito


Fonte: Metro News, com Agência Estado

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