Paper Excellence diz que Eldorado é chance rara

Enquanto outros interessados na Eldorado Brasil, produtora
de celulose da J&F Investimentos, apostavam na redução do preço proposto
pela Paper Excellence (PE), a empresa da família de origem chinesa Widjaja,
estabelecida na Indonésia, manteve a oferta de R$ 15 bilhões e, em menos de um
mês, fechou negócio com os irmãos Wesley e Joesley Batista.

Ao olhos dos compradores, o prêmio é justo diante da
oportunidade “de ouro” de entrar no Brasil com uma fábrica de 1,7
milhão de toneladas por ano já em operação. “Estamos celebrando”,
afirmou ao Valor o presidente-adjunto da Paper Excellence, Pedro Chang, em
entrevista por telefone após o fechamento do negócio no fim de semana.

Assinada na madrugada de sábado, a compra da Eldorado pela
PE, empresa com sede na Holanda que pertence aos mesmos donos da gigante
indonésia Asia Pulp and Paper (APP), surpreendeu a indústria. Mas, pelo menos
por enquanto, um dos principais temores dos concorrentes não deve se confirmar:
antes de pensar em expansão, a Paper Excellence vai se concentrar na integração
de seus ativos.

A Paper Excellence tem outras sete fábricas, no Canadá e na
França, com capacidade de produção de 2,3 milhões de toneladas. Com a Eldorado,
entra no crescente mercado de celulose de eucalipto. Chinês, Chang comanda os
negócios a partir de Vancouver, no Canadá. Na família Widjaja, a empresa fica
sob a responsabilidade de Vancouver, no Canadá. Na família Widjaja, a empresa
fica sob a responsabilidade de Jackson Wijaya, que iniciou as conversas com os
irmãos Wesley e Joesley Batista. Veja abaixo os principais trechos da
entrevista:

Valor: A Paper Excellence está pagando um prêmio considerado
elevado para entrar no Brasil. Por que? Quais são os argumentos para essa
aquisição?

Pedro Chang: A Paper Excellence opera cinco fábricas no
Canadá e duas na França, mas basicamente de fibra longa. E também fazemos pasta
mecânica de celulose, que é usada na fabricação de papel cartão, para
embalagens, como as do McDonald’s. No entanto, a fibra curta é muito
importante, e a Eldorado tem a fibra curta de eucalipto, que é a melhor para
produção papéis de imprimir e escrever. Então é uma sinergia muito importante
no nosso negócio, de continuidade, de crescimento e internacionalização, porque
também queremos ser o líder global na indústria de celulose. Estamos sempre
olhando oportunidades de expansão, seja aquisição ou construção de novas
fábricas. Então, olhamos para a Eldorado como uma oportunidade muito boa.
Inicialmente, estávamos monitorando as negociações com a [chilena] Arauco, que
tinha a exclusividade. Depois disso, a Paper Excellence fez o acordo de
aquisição e entendemos que é uma integração muito, muito boa no segmento de
celulose.

Valor: Gostaria de voltar à pergunta anterior. Seus
concorrentes dizem que você está pagando um preço muito alto. Qual foi sua
avaliação?

Chang: Temos muita experiência em aquisições de fábricas de
celulose no Canadá e na França. E por que eu quero ir para o Brasil? O Brasil,
hoje, tem a qualidade da tecnologia que acredito ser a melhor do mundo. Se você
quer construir uma fábrica do zero, isso custa muito mais caro. Talvez o custo
fosse ficar muito mais alto. Quando você adquire uma fábrica de celulose, você
não compra só a fábrica, você compra a tecnologia, as pessoas, os talentos.
Custaria muito até começar a operar a fábrica. Achamos que o preço de R$ 15
bilhões, pelos nossos cálculos, é bastante razoável.

Valor: E vocês vão vender a celulose da Eldorado para as
fábricas de papel da APP?

Chang: Não. Vamos vender essa celulose no mercado,
basicamente na Ásia. A China, atualmente, olhando para o tamanho da população,
está superando 1,3 bilhão de pessoas. No Sudeste Asiático, temos outros países
como Indonésia, também com população crescente, então vamos [fornecer para
esses mercados].

Valor: Gostaria de entender por que vocês decidiram investir
no mercado brasileiro. É só por causa da fibra curta ou alguma outra razão?

Chang: A Paper Excellence tem fibra longa e tem alguma coisa
de fibra curta na França e no Canadá, em algumas localidades. A Paper
Excellence não tinha [produção a partir do] eucalipto, então é uma importante
continuidade de crescimento.

Valor: Você pensa em seguir adiante com os planos de
expansão da Eldorado?

Chang: A prioridade da Paper Excellence neste momento é
primeiro fazer a integração [com a Eldorado]. Integrar nossa operação e depois
melhorá-la. Queremos ver a eficiência, a produtividade. Também queremos fazer a
integração com a equipe da Paper Excellence, que é muito boa. Primeiro vamos
integrar ambas as companhias e depois vamos olhar as oportunidades. Quando
aparecer a oportunidade, sempre vamos querer maximizar o valor para os
“stakeholders” na expansão da companhia, na melhoria da capacidade.

Valor: Por que a Eldorado e não outra companhia de celulose?

Chang: Eu acho que adquirir uma fábrica de celulose tem a
ver com o momento, a oportunidade, a localização etc. E o Brasil, até agora,
está numa posição de liderança em termos de produtividade [no setor]. Então é
uma boa oportunidade. Se queremos estar no Brasil, construir uma fábrica do
zero levaria muito tempo. Você precisa adquirir terras, ter paciência,
licenças, precisa de tanta coisa. É uma oportunidade de ouro que alguém
quisesse vender algo com a capacidade de produção adequada, uma capacidade de
1,7 milhão de tonelada. É uma oportunidade rara, no momento certo, na
localização certa. Então, estamos muito felizes de fazer essa aquisição.
Estamos celebrando.

Valor: Esse é um negócio feito em duas etapas. Por que?

Chang: É porque agora estamos conduzindo a diligência
técnica. Se você quer construir uma fábrica, você precisa saber a condição
técnica. Compramos várias fábricas no Canadá com 50, 60 anos. Então, antes de
fechar totalmente o negócio, precisamos ver como os equipamentos estão. Vamos
fazer a due diligence, que já está feita. E aí, até o fim deste mês, vamos ter
34% [de participação na empresa]. Agora a nossa equipe financeira está olhando
para o resto. Então, como o financiamento leva quase doze meses, esse é um bom
tempo.

 

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