Monitor do PIB mostra país ‘querendo sair do buraco’

Há sinais de que a economia está “querendo sair do
buraco”, mas alguns fatores continuam puxando a atividade para baixo, com
destaque para a crise política. A avaliação é de Claudio Considera, coordenador
do núcleo de contas nacionais do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da
FGV.

Divulgado ontem, o Monitor do PIB-FGV cresceu 0,42% entre
março e abril, feitos os ajustes sazonais. A exemplo do Índice de Atividade
Econômica do Banco Central (IBC-Br), o dado é uma aproximação mensal do número
oficial do IBGE. Ao contrário do indicador da autoridade monetária, porém, a
FGV publica os resultados desagregados por componentes do PIB.

Em março, o Monitor foi revisado de alta de 0,04% para queda
de 0,06%. Na comparação com abril do ano passado, o indicador caiu 1,3%, após
aumento de 0,2% em março, na mesma série. Em 12 meses, indica queda de 2,1% no
acumulado até abril, menos intensa que a de 2,3% em março. No trimestre
encerrado em abril, o indicador caiu 0,8% em relação ao mesmo período de 2016.

Na comparação com ajuste sazonal, a alta do monitor foi
influenciada, pelo lado da demanda, por expansão de 2,2% do consumo das
famílias, de 2,1% do consumo do governo, e de 0,39% da Formação Bruta de
Capital Fixo (FBCF, medida do que se investe em máquinas, construção civil e
pesquisa). No setor externo, as exportações caíram 3,76% e a importação subiu
6,53% em abril sobre março.

Pela ótica da oferta, o destaque foi o setor de serviços,
com alta de 1,1%, a maior desde julho de 2014 (1,25%). O crescimento foi puxado
pelo comércio, que subiu 9,03% sobre março. Ainda nos serviços, o transporte
cresceu 1,46%, a intermediação financeira, 0,42%, e administração pública,
1,33%. Já os serviços de informação caíram 1,30% e outros serviços recuaram
0,21%.

A indústria e a agropecuária também tiveram desempenho
negativo entre março e abril, com retração de 0,42% e 0,48% ante março,
respectivamente.

Para Considera, os resultados melhores no consumo estão
relacionados à liberação de recursos de contas inativas do FGTS. Já os
serviços, que foram o último segmento da economia a serem afetados pela crise,
não vão mostrar reação tão cedo, mesmo com a expansão em abril, avalia ele.

“Os serviços não vão se recuperar apenas com a melhora
da renda. Eles foram o último setor a entrar na crise e serão também o último a
sair”, disse. Para a demanda das famílias, há um cenário de lenta
recuperação, diz, mas o desempenho dos investimentos, mais afetados pela crise
política, segue preocupante. “Não vamos conseguir retomar a economia sem
retomar os investimentos, e neles não há nenhum sinal positivo.”

Nos três meses encerrados em abril, a FBCF caiu 4,6% sobre
igual período do ano anterior, tombo mais forte do que o registrado até março,
de 3,7%. Em 12 meses, a retração chega a 6,1%.

A piora do ambiente político impede que a economia se
recupere facilmente, diz Considera, porque os empresários não tomarão decisões
de investir num ambiente incerto. “Mesmo com a taxa de juros mais baixa, é
preciso resolver o problema político. O Supremo precisa dar sinais mais claros
em relação à segurança jurídica.”

Na comparação com abril de 2016, a queda do PIB em abril se
espalhou por quase todas as atividades, à exceção de agropecuária (11,5%),
extrativa mineral (+4,4%) e comércio (1,4%). No total, a indústria teve queda
de 5%, com destaque para a construção (-11%) e a indústria de transformação
(-4,3%). Os serviços recuaram 1,4%.

O consumo das famílias caiu 1% sobre abril de 2016; o do
governo recuou 0,6% e a FBCF diminuiu 7,2%. As exportações caíram 2,4% e as
importações aumentaram 2,7%.

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*