Usiminas negocia último item da dívida

A Usiminas corre para acertar os últimos termos de seu plano
de reestruturação da dívida. O último passo, que se referia a bônus
internacionais no valor de US$ 180 milhões, precisa ser concluído até o dia 30
ou a empresa colocará em risco todo o processo.

Quando alongou e conquistou uma carência para dívidas de R$
6,3 bilhões com bancos e debenturistas, no ano passado, a Usiminas prometeu que
iria também rolar ou amortizar pelo menos metade desses bônus. A promessa virou
cláusula no acordo e, se o covenant for estourado, os credores
terão o direito de pedir o vencimento antecipado de todo o endividamento da
companhia.

De acordo com a companhia, esse modelo está sendo revisto
agora, depois que as tratativas diretas com os detentores dos papéis foram
abandonadas. A empresa avalia que a condição negociada com seus credores
em setembro de 2016 não é mais vantajosa no momento atual e tem negociado com
os bancos credores uma outra alternativa, disse, em comunicado. Até
o momento, a grande maioria dos bancos credores já manifestou disposição em
autorizar a mudança no acordo inicial e as negociações seguem
normalmente.

A operação inicial de emissão foi no valor de US$ 400
milhões. No entanto, US$ 220 milhões em recursos já estão vinculados a essa
transação para que essa parcela seja amortizada. Portanto, faltam US$ 180
milhões.

O plano inicial da siderúrgica mineira, quando iniciou as
conversas com os investidores ao mesmo tempo que os bancos credores no ano
passado, era realizar uma oferta de troca de papéis que garantisse o cumprimento
do covenant. Ou seja, as obrigações teriam vencimento alongado ou
termos melhores que garantiriam a amortização de ao menos 50% do valor total.

Desde então, a empresa teve de se comprometer a trazer uma
proposta de troca aos detentores das notas até, no máximo, 30 de junho deste
ano. Até lá, pediu – e pagou por isso, US$ 2,50 a cada título de US$ 1.000, em
janeiro – que os investidores perdoassem previamente estouros de
covenants.

A situação é desconfortável porque, apesar do recente fluxo
de caixa positivo, da capitalização pelos acionistas e do acesso aos recursos
da Mineração Usiminas (Musa), as obrigações da siderúrgica ainda são grandes
demais para o volume de dinheiro guardado. Em março, o caixa era de R$ 2,42
bilhões.

Mas, por outro lado, é improvável que os bancos – ou ao
menos todos eles – queiram exercer esse direito. Não seria interessante para os
credores, ainda mais um grupo que aceitou previamente reestruturar o
endividamento para permitir a continuidade operacional da companhia, que esse
evento de liquidez ocorra. Por isso, a chance é grande de que um perdão, ou o
chamado waiver, a essa quebra de cláusula seja concedido, no mínimo
parcialmente.

Quem assessora financeiramente a Usiminas nesse processo é o
Bank of America Merrill Lynch. O Valor apurou que uma das diretrizes da
instituição no momento é de que se segure a situação até janeiro de 2018,
quando os bônus vencem oficialmente, para que sejam amortizados por completo e
de uma única vez.

De acordo com fontes próximas à Usiminas, um dos grandes
motivos para que a oferta de troca fosse abandonada foi uma due
diligence realizada na empresa para produzir documentos a serem levados
aos credores.

Duas dessas fontes revelaram que essa investigação interna
levantou um processo de improbidade administrativa sobre Elias de Matos Brito,
presidente do conselho de administração da empresa, no Tribunal de Justiça do
Rio de Janeiro. Ele é um dos réus da ação judicial, referente a sua participado
na liquidação do Banco do Estado do Rio de Janeiro (Berj) – o que sobrou do
Banerj -, no início da década passada.

A Usiminas nega que a due diligence tenha
encontrado qualquer fator impeditivo para o prosseguimento do
acordo. A análise foi interrompida em razão da decisão da Usiminas
em seguir com outro formato de negociação, diz, em comunicado.

Brito é um dos três conselheiros da Usiminas indicados pelo
grupo ítalo-argentino Ternium /Techint, que faz parte do bloco de controle da
siderúrgica mineira ao lado da japonesa Nippon Steel & Sumitomo Metal e da
Previdência Usiminas. Procurada, a Ternium não respondeu ao pedido de
entrevista.

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