Mineradora tem de fazer “dever de casa” para crescer, diz BCG

Diante da eminência de uma nova rodada de cortes de custos, ainda falta dever de casa a fazer em termos de eficiência para as mineradoras chegarem com mais chance de se sustentar quando o mercado atingir o reequilíbrio, entre 2018 e 2019. Essa é a opinião de Marcos Aguiar, sócio sênior do Boston Consulting Group (BCG). Os ajustes de gastos começaram após a rápida queda dos preços das commodities em 2014.


Em entrevista ao Valor, o especialista em mineração afirma que é a hora de uma nova fase de reduções de gastos. Uma das principais alavancas de rentabilidade, explica, se encontra na cadeia de fornecimento. Renegociações de contratos, fretes da mina ao porto e do porto ao destino de entrega e potenciais centros de distribuição em outras regiões seriam fatores para ajudar as mineradoras, diz.


O BCG publicou, no fim de 2016, um estudo sobre as medidas necessárias para o setor recuperar a confiança dos investidores. Nesse relatório, a consultoria elege três pontos como essenciais: resolver a deterioração financeira das companhias, recuperar o direito a crescer e desenvolver uma tese de investimento atrativa para o futuro.


Sobre reparar as finanças, por exemplo, a instituição argumenta que apesar da queda nos investimentos recentemente, o nível ainda está alto em relação ao fluxo de caixa operacional. Em 2015, por exemplo, foram US$ 84 bilhões, com previsão de US$ 82 bilhões no ano passado – o corte é superficial. As companhias precisam alinhar a estratégia de negócios com a financeira, diz Aguiar.


É assim, opina o BCG, que as mineradoras vão conquistar o direito de crescer. Isso significa possuir musculatura financeira suficiente para aumentar investimentos e expandir os negócios. Com uma posição melhor de custos e geração de caixa sustentável, o orçamento das empresas pode ser mais robusto, observa o sócio da consultoria. Tirando o processo orgânico de crescimento, esse ‘direito’ está condicionado a fazer o dever de casa.


Aguiar sustenta uma tese que, desde o ano passado, especialistas articularam: de que o superciclo da commodities deixou as mineradoras relativamente preguiçosas. O estudo do BCG mostra que de 2005 a 2010 os custos do setor já representavam mais de 60% das receitas, chegando a 70% em 2014. No ano passado, a situação ficou mais crítica ao atingir 75%. O levantamento foi feito com as 55 maiores companhias do mundo.


Essa deterioração tem relação tanto com o menor volume de receitas das empresas por conta da desvalorização das commodities, quanto com a posição confortável demais durante o boom de preços da última década. Quando iniciaram o processo de enxugar essa estrutura, as mineradoras ainda foram beneficiadas por uma valorização do dólar – a maioria das produtoras possui moeda funcional emergente, o que acelerou o corte em dólares -, mas ainda assim as margens estão extremamente baixas.


As mineradoras demoraram demais para atuar no corte de custos, o que causou a maior parte de seus dilemas quando o preço das matérias-primas começou a cair, opina Aguiar. Agora, o que houve foi uma atuação muito rápida em despesas operacionais, mas é necessário mexer nos custos de venda. É aí que você verá a diferença entre os concorrentes.


Com essa postura de eficiência e a tendência de priorizarem criação de valor e não só expansão de volumes – como o BCG aposta que continuará sendo o caso em 2017 -, o setor pode voltar a atrair maior fluxo de capital. Em termos de fusões e aquisições, o maior interesse seria de fundos de participações, de private equity, e veículos chineses.


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