O dólar abaixo de R$ 3,20 tem levado algumas companhias a reduzir as operações de fechamento de câmbio para exportação, à espera de uma cotação melhor da moeda americana. O fluxo comercial – que mede a diferença entre as operações de câmbio para exportação e importação – acumulava déficit de US$ 23 milhões em janeiro, até o dia 20, contra um superávit de US$ 3,219 bilhões registrado no mesmo período do ano passado – quando o dólar rondava os R$ 4. Ontem a moeda fechou negociada a R$ 3,1797.
As operações destinadas à exportação somaram US$ 7,359 bilhões até o dia 20 de janeiro, queda de 25,46% em relação ao mesmo período do ano passado. Esse número inclui, além das operações de fechamento de câmbio, linhas de crédito direcionadas para os exportadores, como o Adiantamento sobre Contrato de Câmbio (ACC) e o Pagamento Antecipado (PA).
Há uma parada do movimento dos exportadores quando o dólar cai abaixo de R$ 3,20. Mas o volume dessas operações deve aumentar a partir de março e abril, quando costuma haver maior fluxo de vendas de safra, diz o superintendente-executivo da área de câmbio da tesouraria do Santander Brasil, Maurício Auger.
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O Bank of America Merrill Lynch espera um aumento do fechamento de câmbio para exportação, entre US$ 12 bilhões e US$ 15 bilhões, até abril. No ano passado, a média mensal dessas operações entre janeiro a abril foi de US$ 13,225 bilhões. O mercado enxerga pontos de atenção e prefere esperar para vender dólares em momentos de um câmbio mais favorável, afirma Nuno Martins, chefe de estruturação e vendas de derivativos do banco. Devemos ver um aumento dessas operações entre março e abril, quando os exportadores devem vender a maior parte da produção de soja, diz.
O gerente de tesouraria da unidade brasileira do Bank of China, Jayro Rezende, lembra que, além do patamar do dólar, o exportador também olha a cotação da commodity. No caso da soja, o preço por bushel negociado em Chicago para vencimento em maio acumula uma alta de 20,55% em 12 meses. O preço da soja está acima de um ano atrás, o que permite que o exportador tenha mais tolerância para fechar a venda, diz.
Segundo Auger, os grandes exportadores costumam ter política de hedge (proteção) e podem diluir as vendas de dólares ao longo do tempo, dependendo do patamar do câmbio. Da mesma forma, o aumento da procura por hedge cambial depende muito da volatilidade do câmbio. Em janeiro, até o dia 23, o volume de operações de venda de dólar por meio de contratos a termo de moedas – um tipo de hedge – na Cetip (NDF, na sigla em inglês) somou US$ 4,230 bilhões, queda de 25,76% em relação ao mesmo período do ano passado.
Já o volume de operações de compra de dólar por meio desses instrumentos somou US$ 7,098 bilhões, praticamente em linha com o total registrado no mesmo período de 2016. Quando a volatilidade cai, o volume de operações de hedge cambial também cai, seja porque as empresas anteciparam o movimento, seja porque elas trabalham com flexibilidade e só aumentam as posições a partir de determinado nível de dólar, diz Fabio Zenaro, superintendente de produtos da Cetip.
A falta de novidade em relação à política econômica do presidente americano Donald Trump e o recesso do Congresso nacional têm contribuído para a boa performance dos ativos locais neste início do ano – inclusive do real. O dólar acumula uma queda de 2,18% no ano. Mas o mercado espera um aumento da volatilidade do câmbio, dadas as incertezas no cenário externo, especialmente em relação aos planos do novo presidente americano para a política fiscal e de investimentos.
O temor do mercado é que uma política fiscal muito expansionista possa levar o Fed (banco central americano) a promover um aumento maior do que o esperado da taxa básica de juros dos Estados Unidos, o que poderia impulsionar a alta do dólar.
A diminuição das operações de fechamento de câmbio pelos exportadores também se refletiu nas linhas de Adiantamento sobre Contrato de Câmbio (ACC), cujo volume contratado em janeiro, até o dia 20, mostrou queda de 33,63% frente ao mesmo período do ano passado, somando US$ 1,127 bilhão. Essas linhas servem como capital de giro, em que o banco antecipa reais ao exportador de uma venda já acertada, tendo até 360 dias para fazer o embarque.
No ano passado, o volume de operações via ACC totalizou US$ 29,942 bilhões, queda de 13,89% em relação a 2015, reflexo de um aumento de custo nas linhas, com a alta das taxas de juros lá fora e os bancos mais seletivos na concessão de crédito, e também da atividade econômica mais fraca. Mas os analistas não viram esse movimento como relevante. Não foi um enfraquecimento acima do que estávamos esperando, diz Auger, do Santander. Ele ressalta, no entanto, que o ACC continua sendo uma linha em dólar barata para os exportadores.
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