É consenso, entre investidores e especialistas, que o principal desafio de Fabio Schvartsman à frente da Vale é a reestruturação societária em curso e a ida da empresa para novo nível de governança corporativa, com listagem das ações no Novo Mercado da B3 (ex-BM&FBovespa). O executivo, de 63 anos, que comandou a fabricante de celulose e papelão Klabin desde 2011, assume a presidência-executiva, hoje, no Rio.
Não menos importante é o caso do desastre ambiental da Samarco, em Mariana (MG), que completou um ano e meio dia 5. Sem precedentes, o desastre deixou bastante arranhada a imagem da Vale por não mostrar uma atitude pró-ativa nos primeiros momentos do problema. Sua sócia na produtora de pelotas de ferro é a anglo-australiana BHP. Sob pressão de várias ações judiciais, as duas empresas terão de reparar danos bilionários.
Schvartsman, escolhido no fim de março num processo coordenado por um comitê formado pela holding Valepar e conduzido pela empresa de headhunting Spencer Stuart, substitui Murilo Ferreira. Ele torna-se o quinto presidente desde a privatização da companhia, em maio de 1997.
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Graduado e pós-graduado em Engenharia de Produção pela USP e pós-graduado em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas, antes da Klabin teve passagens por Duratex, San Antonio e Telemar. Na Ultrapar, dona do grupo Ultra, trabalhou 22 anos, até 2007. É visto como o gestor certo – dadas suas experiências no Ultra e Klabin – para comandar a reorganização societária da Vale, levá-la a um novo patamar em gestão e governança, bem como reposicionar seu portfólio de negócios.
Para uma fonte que conhece bem o setor e a companhia, o momento da Vale não é para “fazer experiências”. A empresa vai ter uma transição de grupo de controle com forte influência de governo para uma gestão mais voltada para o mercado, comenta.
A reestruturação societária, para virar “uma corporation sem controle definido”, é um desafio gigantesco, diz Marco Saravalle, analista da XP Investimentos. “Parece fácil mas não é, pois vai ter de atender aos interesses de todos, do grupo de controle até o minoritário, sujeitos a divergências”.
Para o analista, esse é o ponto crucial no mandato de Schvartsman. Um processo que vai requerer bom tempo para ser consolidado. Para executar seu modelo de gestão, que é austero e focado, ele precisa de no mínimo três anos, diz. No dia a dia, as coisas estão bem encaminhadas: Murilo Ferreira deixa de pé o grande projeto da década da Vale, o S11D, de minério de ferro, em Carajás, que tem baixo custo e elevada rentabilidade.
A desalavancagem financeira é outro ponto de atenção, embora esteja controlada. No fim de março, a Vale fechou com dívida líquida de US$ 22,8 bilhões. A gestão que sai traçou meta de redução para US$ 15 bilhões a US$ 17 bilhões até o fim deste ano. A queda vem ocorrendo por força de intensa venda de ativos e teve a contribuição da geração de caixa – atingiu US$ 12,2 bilhões em 2016 -, beneficiada nos dois últimos trimestre pela recuperação dos preços do minério de ferro e melhorias nas áreas de metais e carvão.
A empresa que Schvartsman recebe tem 50% dos ativos – essencialmente a área de ferrosos, com minério de ferro à frente – gerando 90% do resultado operacional (Ebitda). Os outros 50%, que são cobre, níquel, logística, carvão e outros (fertilizantes foi vendida recentemente) geram apenas 10%. A pergunta que se faz é o que a Vale irá fazer com níquel, cobre e carvão. No carvão, que só agora começa a gerar resultado positivo, a escala de produção é considerada baixa para ser uma player global.
Pela atuação do executivo na Klabin, que elevou rentabilidade operacional e margens do negócio, o mercado ficou tranquilo com sua escolha para presidir a Vale. “Deve continuar a austeridade e busca por eficiência”, afirma Saravalle, da XP. Ele vê um cenário ainda difícil do minério, que viveu um surto de recuperação, sem fundamentos, além de 90 a tonelada. Diz que os US$ 60 atuais parecem ser um piso sustentável para a Vale. E deve manter o ajuste de ativos não estratégicos para se concentrar naquilo que é a sua especialidade.
Segundo disseram fontes ao Valor , Schvartsman terá a chance única de fazer um trabalho de transformação na Vale, pois ele começa com o tema da reorganização societária e da governança – que é a sua praia. Até o fim do ano, ficará na ponte aérea semanal São Paulo-Rio, mas seu horizonte é de se estabelecer para um ciclo além dos dois anos acertados com os acionistas. Não chega cru: desde o início de abril vem fazendo a transição com Ferreira e seus diretores.
Uma receita anual na casa de US$ 30 bilhões e uma geração de caixa enorme puxada por minério de ferro, a Vale criou deslumbramento para muitos executivos que sonhavam conduzí-la. Para Schvartsman, avaliam pessoas próximas, são os vários desafios que ela tem que o estimularam.
Procurado para conceder entrevista, informou que não era hora.
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