A possibilidade de o novo presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Paulo Rabello de Castro, adotar uma política mais expansionista de crédito é vista com bons olhos por funcionários da instituição. Mas um eventual impulso aos desembolsos do banco na gestão de Rabello esbarra a priori na situação interna que existe hoje dentro do banco, depois da Operação Bullish, da Polícia Federal, que investiga as operações do BNDES com a JBS.
“Ainda não sabemos qual é a posição dele [de Rabello] em relação ao BNDES, aos funcionários, e como ele vai fazer para o banco emprestar mais. Mas, para que isso aconteça, será importante que ele deixe clara qual é a sua visão sobre a criminalização das atividades do banco”, disse Thiago Mitidieri, presidente da Associação de Funcionários do BNDES (AFBNDES).
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A afirmação faz referência aos efeitos da Operação Bullish, que investiga 31 funcionários do banco, além de Luciano Coutinho, ex-presidente da instituição. No dia 12 deste mês, a PF levou os funcionários investigados para depor de forma coercitiva, e cumpriu mandados de busca e apreensão de documentos. O clima entre A afirmação faz referência aos efeitos da Operação Bullish, que investiga 31 funcionários do banco, além de Luciano Coutinho, ex-presidente da instituição. No dia 12 deste mês, a PF levou os funcionários investigados para depor de forma coercitiva, e cumpriu mandados de busca e apreensão de documentos. O clima entre os técnicos, que era de insegurança, se aprofundou, e essa situação pode dificultar que se faça uma política mais pró-ativa de crédito, disse um empregado do banco.
Parte do desgaste sofrido pela ex-presidente do BNDES, Maria Silvia Bastos Marques, que se demitiu na sexta-feira alegando razões pessoais, foi justamente por um embate com os empregados que a acusaram de não fazer defesa mais enfática dos técnicos e da instituição. “A passagem de Maria Silvia pelo BNDES foi deletéria”, disse Ernani Torres, professor do Instituto de Economia da UFRJ e ex-superintendente do BNDES. Na visão dele, na gestão de Maria Silvia as mudanças criaram uma “paralisia” dentro do banco.
Nesse sentido, a indicação de Rabello seria uma resposta às críticas que o BNDES vinha sofrendo na gestão de Maria Silvia, sobretudo de parte do empresariado, por “travar” o crédito, disse Torres. O economista avaliou como positiva a nomeação de Rabello: “Em princípio, é ótimo porque pode aumentar o diálogo com o empresariado, reduzir a entropia [gasto inútil de esforços], melhorar a eficiência e, ao mesmo tempo, pensar em um BNDES para o futuro.” Embora Maria Silvia e Rabello sejam indicados pelo mesmo governo, Torres disse que, dependendo quem senta na cadeira da presidência, o enfoque pode mudar um pouco. “Ali tem que pensar que é um banqueiro relevante com um papel importante para o país.”
Embora os empregados do BNDES tenham cobrado insistentemente uma defesa mais enfática da instituição por parte de Maria Silvia, há, entre o corpo técnico, quem reconheça que na gestão dela houve um debate interno sobre os rumos da instituição. “Ela [Maria Silvia] não motivou esse debate, a discussão nasceu de uma reação natural do corpo técnico em relação às propostas da administração, como a devolução antecipada de recursos ao Tesouro e o fim da TJLP [Taxa de Juros de Longo Prazo]. Mas há que se reconhecer que Maria Silvia não perseguiu ninguém por causa disso e também não cerceou o debate interno no banco”, disse o funcionário.
Um ex-diretor do banco disse que o clima com a chegada de Rabello é de expectativa. “Sobretudo como ele vai conduzir o banco em meio a [uma possível] CPI e em um governo desgastado.” Segundo a fonte, ainda não há sinal de novos diretores, mas os empregados torcem para que sejam mantidos os diretores-funcionários de carreira bem como o diretor jurídico [Marcelo de Siqueira Freitas], que lidera as iniciativas do banco nas questões ligadas à JBS. “Somos os maiores interessados nas apurações.”
Na visão de Mitidieri, o importante será conhecer a visão de Rabello em relação ao papel do BNDES na crise. Ontem Rabello afirmou que se o Brasil está carente desenvolvimento precisa de mais ação do BNDES. Nesse contexto, os empregados do banco querem saber qual é o pensamento de Rabello em relação à TJLP, que será substituída pela Taxa de Juros de Longo Prazo (TLP). “Se ele for favorável ao fim da TJLP, há aí uma contradição implícita com a disposição de emprestar mais. pois a premissa da TLP é que a Selic vai cair e se manter em níveis civilizados. Mas essa é apenas uma hipótese que pode não se comprovar”, disse Mitidieri. Para Torres, a substituição da TJLP pela TLP não parece ser uma medida adequada às condições da economia, a menos que se queira provocar uma contração do crédito direcionado corporativo e acelerar o repagamento da dívida do BNDES com o Tesouro Nacional.
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