Depois da campanha contra o aumento dos impostos, a redução
das taxas de juros pode protagonizar a agenda da Federação das Indústrias do
Estado de São Paulo (Fiesp). Em seminário realizado ontem na sede da entidade e
intitulado “É possível reduzir a taxa básica de juros”, o vice-presidente
da entidade, José Ricardo Roriz, voltou a defender o corte de três pontos
percentuais na Selic neste ano. Falou, além disso, sobre a necessidade de uma
ação coordenada para que o país inicie um ciclo de redução estrutural dos
juros.
“Não se fala mais em aumento de impostos, fala-se em
melhora na qualidade do gasto”, disse, creditando a mudança de escopo no
debate público a respeito do ajuste fiscal às iniciativas da Fiesp contra o
aumento da carga tributária, personificadas na figura do pato amarelo usado nas
propagandas da entidade.
Roriz afirmou que o Banco Central deveria levar em conta o
aumento do desemprego e o ambiente recessivo nas decisões de política monetária
e destacou que, nos últimos seis meses, a taxa real de juros avançou de 3,5%
para 5,5% no Brasil, já que a inflação desacelerou no acumulado em 12 meses de
10,7% para 8,7% e a Selic se manteve em 14,25% ao ano.
Caso as projeções colocadas no boletim Focus se confirmem,
acrescentou, a situação ficaria ainda mais distorcida no próximo ano. Com
inflação perto de 5,1% no fim de 2017 e taxa de 11% ao ano, o juro real
chegaria a 5,9%. “Os índices de confiança são uma espécie de termômetro do
risco. Se o risco está diminuindo, porque a taxa de juros aumenta? Nos não
podemos ficar esperando, porque a atividade econômica está praticamente
paralisada”, destacou.
Os economistas convidados para debater o tema – o diretor da
Mauá Capital e ex-diretor do BC, Luiz Fernando Figueiredo, o economista-chefe
do banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, e os professores da Fundação
Getulio Vargas (FGV) Yoshiaki Nakano e Fernando de Holanda Barbosa –
ressaltaram, contudo, que os juros persistentemente elevados no Brasil são
resultado de uma combinação de problemas que não têm resolução no curto prazo.
Entre eles, do nível alto de endividamento público, da proporção elevada de
crédito subsidiado na economia e da estrutura dos ativos financeiros, onde os
instrumentos de curto prazo têm peso relevante.
“Nossa economia está quase se desorganizando e nós
temos que pagar um preço por isso. Nós já tentamentos pegar atalho outras vezes
e não deu certo”, ponderou Figueiredo. Para ele, uma das prioridades no
debate sobre a redução da taxa de juros deveria ser a estrutura rígida dos
gastos públicos e a tendência de aumento permanente das despesas. E destacou a
deterioração recente das contas no governo, que devem entregar déficit primário
de 2,5% neste ano. “Com essa trajetória, não tem conversa”.
Nesse sentido, Gonçalves, do Fator, pondera que a
recuperação da arrecadação durante o ciclo de crescimento deve ser mais lenta
do que em outros períodos, já que o nível de informalidade segue crescendo,
tanto entre os trabalhadores quanto entre as empresas. “Os impostos que
incidem sobre atividade das empresas vão demorar a normalizar. A retomada vai
ser bastante difícil”.
Atualmente, calcula Figueiredo, o primário necessário para
estabilizar a relação dívida/PIB é de 3%. Ele e Gonçalves acreditam que a
autoridade monetária cortará a Selic em 50 pontos-base já na reunião de outubro.
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