Depois de mais de três anos fora do mercado, a mineradora Vale fechou ontem emissão de US$ 1,25 bilhão em bônus externo. Com pouco mais de uma hora da abertura da operação, a demanda já havia superado os US$ 500 milhões mínimos estimados. O livro com as propostas dos investidores foi fechado perto das 14 horas de Nova York, com demanda perto de US$ 5 bilhões, segundo uma fonte que acompanhou a operação.
Apesar do apetite do investidor, a empresa optou por uma operação de cinco anos, na contramão da estratégia adotada até aqui. Pelo menos desde 2010, a Vale não fazia emissões com prazo inferior a dez anos. Para colocar os novos títulos, com vencimento em 2021 e que saíram a 100% do valor de face, vai pagar 5,875%, abaixo do preço estimado inicialmente de cerca 6%.
Não há no mercado emissões de cinco anos da Vale. Mas, para se ter ideia do aumento do custo para emissores brasileiros, em 2012, a companhia fez duas ofertas de bônus em dólar de dez anos, com retorno ao investidor abaixo de 4,5%.
Segundo estimativas de uma outra fonte próxima à oferta, o custo para Vale fazer uma emissão de dez anos teria um prêmio adicional entre 100 e 125 pontos-base em relação ao papel de cinco anos, alcançando taxa de pelo menos 6,875%. “A opção por prazos menores é reflexo do novo momento de Brasil, após a perda do investment grade”, afirma esse interlocutor. Nada impede, no entanto, que se o cenário continuar melhorando a Vale volte a mercado para uma emissão de dez anos.
O mercado de dívida internacional só voltou a ficar atraente para o emissor brasileiro a partir de meados de fevereiro. Os bônus da Vale para 2022, mais próximos dos novos títulos com resgate em 2021, chegaram a pagar 12,5% em 20 de janeiro, antes do forte rali dos últimos meses com a melhora da cena externa – suportada pela combinação de desvalorização do dólar, recuperação das commodities e temor menor com a China -, associada à maior probabilidade de mudança de governo no Brasil. No fim de março, esses papéis eram negociados com um retorno para o investidor na casa dos 7%. Ontem, fecharam cotados por volta de 5,5%, pouco abaixo da nova emissão para 2021.
Nesta semana, os ativos de riscos voltaram a experimentar uma forte valorização, o que abriu espaço para as novas emissões brasileiras. Contribuiu para o ambiente mais favorável o discurso mais cauteloso da presidente do Federal Reserve (Fed), Janet Yellen, na segunda-feira jogando para frente o início do aperto monetário, além da valorização de commodities como petróleo e minério de ferro.
Eldorado Brasil Celulose e a Cosan devem concluir nos próximos dias captação de pelo menos US$ 500 milhões cada. A Cosan realiza hoje encontro com investidores nos EUA e na Europa e deve concluir amanhã a oferta atrelada a uma recompra de títulos, para alongar os prazos e flexibilizar as condições das dívidas.
O investidor tende a privilegiar companhias com um bom trânsito fora. Com exceção de Eldorado, que prepara a sua estreia no mercado de bônus, todas as demais que captaram ou estão em vias de fazê-lo são emissoras frequentes.
As emissões de Petrobras, cuja demanda alcançou US$ 20 bilhões, e da própria Vale mostram que o apetite continua forte, especialmente levando em conta a ausência de operações corporativas do Brasil por quase um ano e a continuada busca por retorno.
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