A Eldorado Brasil Celulose e Papel planeja construir um terminal no porto de Santos exclusivo para exportação. A instalação embarcará toda a celulose produzida na fábrica que a empresa está erguendo no município de Três Lagoas (MS). Quando pronta, a unidade fabril terá capacidade para produzir 1,5 milhão de toneladas por ano. A previsão é que esteja operacional até o fim de novembro.
O projeto de um terminal em Santos integra um plano de investimento de R$ 6,2 bilhões da Eldorado para produzir e escoar sua produção. A infraestrutura logística para transpor os 800 km entre a fábrica e o cais contará ainda com mais três terminais e responderá por aproximadamente 8% do total de investimento previsto.
O primeiro terminal ficará na origem: um porto fluvial próprio nas proximidades da fábrica, às margens do rio Paraná, com oferta para movimentar 4 milhões de toneladas anuais. O processo de licenciamento do porto está no fim. No meio do trajeto serão erguidas duas instalações multimodais: um terminal rodoferroviário em Aparecida do Taboado (MS) e outro ferrofluvial em Pederneiras (SP).
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A celulose será transportada até o porto de Santos por trens. “Não vamos ter modal rodoviário, isso será um tremendo ganho para o porto”, afirma o gerente executivo de logística da companhia, Alvaro Ivan Bunster. Os vagões que serão utilizados terão capacidade para levar 88 toneladas de fibra. Atualmente, o maior do mercado carrega 72 toneladas da carga.
Há um ano, a Eldorado solicitou à Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp) a abertura de licitação de uma área na margem direita (Santos) do porto para construir o terminal. O local exato não está definido. O Valor apurou que a Codesp gostou do projeto e estuda algumas das poucas regiões ainda disponíveis para arrendamento na margem direita do canal de navegação. “Existem algumas possibilidades”, afirma o presidente da Codesp, José Roberto Serra, citando quatro armazéns diferentes: o 9, 10, 11 e o 32.
Hoje o conselho de acionistas da Codesp se reúne e um dos itens da pauta é a votação do plano diretor do porto, instrumento que define a natureza da carga a ser movimentada em cada trecho do complexo. A expectativa é que daí saia a decisão do melhor local para o projeto da Eldorado.
“Avaliamos as duas margens [Santos e Guarujá], mas no caso da celulose a direita está mais preparada porque já existem terminais que movimentam e exportam celulose. A ideia é ter concentração desse tipo de carga para facilitar o carregamento dos navios e a chegada dos trens”, diz Bunster. A VCP, Fibria e NST operam áreas no porto para exportação de celulose.
Apesar de fazer sigilo sobre o local requisitado, o executivo afirma que o tamanho das possíveis áreas varia entre 18 mil metros quadrados e 29 mil metros quadrados.
A decisão de escoar a produção por Santos é resultado de um estudo que aferiu a melhor relação custo-cadeia, já que a fábrica ficará na divisa entre Mato Grosso do Sul e São Paulo. “E também porque há, em Santos, certa preferência de armadores que transportam a celulose, pois existem outras empresas que escoam por lá”, diz Bunster.
Como a fábrica começa a produzir em novembro, a Eldorado alugou área privada fora do porto sob concessão da Codesp para atender a demanda enquanto não consegue o arrendamento. Trata-se de uma área contígua ao porto, próxima a berços de atracação e com desvio ferroviário. “Assim conseguimos construir o projeto portuário de maneira mais tranquila”, afirma o executivo. O local conseguirá suprir 100% do volume, que no primeiro ano deverá bater em 1,3 milhão de toneladas. Mesmo se vencer o leilão na margem direita, a Eldorado estuda manter o aluguel da área privada, que está preparada para movimentar carga em contêiner. A maior parte da celulose, porém, será embarcada solta, nos chamados navios “breakbulk”.
Como a Eldorado movimentará sobretudo carga própria, poderia optar pela construção de um terminal privativo – modalidade que dispensa licitação, dependendo apenas da autorização da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq). Mas o terminal privativo precisa ser feito do zero, inclusive a infraestrutura de acostagem, com o respectivo licenciamento ambiental.
Daí a opção por participar de uma licitação de uma área pública, explica Bunster. “Tendo 5 milhões ou 6 milhões de toneladas na mão, não descartamos essa possibilidade no futuro.”
Questionado qual a estratégia se a Eldorado perder a licitação, o executivo afirma: “Temos uma segunda alternativa caso isso venha a acontecer, mas não podemos falar. É muito confidencial”.
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