A Siemens, multinacional alemã de equipamentos, com atuação em vários setores – de energia à mobilidade urbana e área de saúde – garante que seus negócios no Brasil não foram afetados com o processo de denúncia de prática de cartel em licitações para os metrôs de São Paulo e Brasília. A denúncia, levada ao Conselho de Administrativo de Direito Econômico (Cade) no ano passado, envolveu quase 20 empresas locais e estrangeiras e continua em investigação.
Paulo Stark, presidente da Siemens Brasil, em entrevista ao Valor na sede da filial brasileira em São Paulo, disse que a receita da empresa no país em 2013 atingiu o maior montante dos últimos sete anos – cresceu 13,5%, alcançando R$ 5,4 bilhões. O volume de pedidos totalizou R$ 5,1 bilhões, com expansão de 21%.
Segundo o executivo, que assumiu o posto em 2012, a companhia manteve seu foco de atuação e seu programa de investimentos não sofreu mudanças. Seguiu o ritmo de US$ 100 milhões anuais. “São US$ 700 milhões em uma década”, afirmou. Destacou, como exemplo, que neste mês a empresa está pondo em operação mais uma unidade de produção, a 14 ª no país. Foi instalada em Jundiaí (SP), onde está o maior complexo operacional do conglomerado (agora com dez unidades fabris e um terço das 8 mil pessoas empregadas).
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O crescimento no país, informou Stark, busca atender a demanda das quatro divisões de negócios da Siemens: equipamentos industriais, para energia, área médica e infraestrutura/cidades.
A 14ª unidade trouxe novidades para o setor industrial (celulose e papel, mineração, óleo e gás, química e açúcar e etanol). É a primeira fábrica de inversores de baixa tensão da companhia na América Latina e sétima no mundo.
Em Joinville (SC), a unidade de saúde expandiu a capacidade, introduzindo equipamentos médicos de ultrassom não fabricados aqui. Faz parte do pacote de investimento de R$ 50 milhões nessa área e prevê crescer 30% ao ano e dobrar de tamanho até 2017.
Com a aquisição da Senergy, uma start-up localizada em Minas Gerais, diz que criou no país o 8º centro de competência global em Pesquisa & Desenvolvimento. Tem foco em áreas como óleo e gás, cogeração e transformadores e desenvolve soluções para o melhor consumo de energia.
Stark afirma que a atuação brasileira na área de energia foi reforçada com a aquisição pela Siemens, neste ano, dos negócios de compressores e turbinas a gás da Rolls-Royce neste ano. “Com isso, vamos ganhar mais aplicações nas áreas de geração de energia a óleo, gás, biomassa e cogeração”.
O executivo acredita também que outros ganhos virão com a reorganização global da companhia, anunciada em maio, que será implementada a partir de 1º de outubro, inicio do ano fiscal da multinacional alemã. A subsidiária brasileira passará a fazer parte da divisão Américas, que ficou a cargo da americana Lisa Davis, integrante do grupo de oito membros da diretoria executiva comandada pelo CEO Joe Kaeser.
O realinhamento global do grupo, que emprega 200 mil pessoas no mundo, dentro da Visão 2020, busca maior visibilidade dos negócios (reduzidos de uma grade de 16 para 9 áreas), maior proximidade dos clientes, concentração em áreas com potencial de crescimento e revisão das demais, gestão administrativa separada para a divisão de saúde e listagem em nova empresa do negócio de audiologia. “É uma mudança tática e estratégica, que vê o mercado em três grandes tendências de desenvolvimento: eletrificação, automação e digitalização”, diz o executivo brasileiro.
Para Stark, esse realinhamento é uma visão de longo prazo, cujo foco estratégico vai orientar o portfólio de atuação, ao mesmo tempo que visa maior agilidade, distribuição dos centros de decisão e mais autonomia regional.
Sobre o atual cenário da economia brasileira e o impacto na empresa, Stark considera dois caminhos para sua explicação: negócios com ciclos longos e com curtos. Os primeiros, diz, são menos afetados pelo mau humor. Já os segundos sentem de imediato a retração da demanda. “Mas o ano ainda será bom para nós”, afirma.
O Brasil tem ainda muitas oportunidades de negócios que vão se realizar, comenta. O grande fator é a velocidade que influencia as tomadas de decisões. “O melhor cenário é o que decisões proteladas sejam retomadas em 2015; já o pior é quando projetos são cancelados”. Stark afirma que viu isso acontecer nos últimos anos com a reindustrialização dos EUA, propiciada pelo gás de xisto, a custo competitivo, que levou muita indústria a investir lá e não aqui.
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