Demanda em alta motiva ajuste de turnos

Embora a economia tenha começado a dar sinais de que a expansão no segundo semestre poderá não repetir o forte ritmo exibido nos primeiros meses do ano, companhias de diferentes portes, atuantes nas áreas de construção civil e ligadas à indústria automobilística, tiveram de promover ajustes nos turnos de produção para dar conta das encomendas adicionais. Na Suvinil, da Basf, e na divisão de tintas automotivas, da DuPont, há fábricas que estão operando 24 horas por dia, 7 dias por semana. Na Randon, foi retomado o terceiro turno e na MWM International Motores, os funcionários vão receber a parte do salário que não foi paga à época da redução de jornada diante do forte desempenho verificado no primeiro semestre.


O ajuste de turno corresponde à medida mais imediata para aumentar o uso da capacidade instalada, uma vez que projetos de ampliação e novas instalações têm prazo de maturação maior, são mais caros e definitivos. É o caso da DuPont, que implantou um regime “especial” em áreas críticas para a produção de tintas automotivas, como dispersão de pigmentos e desenvolvimento de cor. “Algumas das áreas da fábrica de Guarulhos (SP) estão operando com capacidade plena”, explica o diretor da divisão DuPont Automotive Systems na América Latina, Antonio Carlos Oliveira. Na unidade, um acordo com o sindicato permite que grupos de funcionários trabalhem 4 dias e descansem 3 para garantir operação ininterrupta.


A indústria de materiais de construção também está crescendo em ritmo forte e, para atender a demanda, está aumentando a produtividade. Segundo pesquisa da Abramat (Associação Brasileira de Materiais de Construção), os fabricantes estão operando com 87% da capacidade produtiva. No início do ano passado, as empresas operavam a uma capacidade média de 78%. “O patamar atual é uma média, há várias indústrias operando com índice próximo de 100% da capacidade”, afirma Melvyn Fox, presidente da entidade.


Há quatro anos, a Abramat faz uma pesquisa com cerca 50 empresas para saber a intenção de novos investimentos no curto e médio prazo. Um total de 76% dos entrevistados afirmou que já está investindo ou pretende investir no aumento da capacidade. “Historicamente, é o nível de intenções de investimento mais alto já detectado pelo levantamento”, diz Fox.


Em julho do ano passado, o índice era de 44%. De janeiro a junho deste ano, o faturamento da indústria cresceu 19,8% sobre igual período de 2009. “A melhora da renda puxou a chamada compra formiguinha, no varejo, que responde por 65% do total vendido”, diz Fox. “Paralelamente, a forte retomada da construção civil e os investimentos previstos para a Copa e Olimpíada fizeram com que as empresas se preocupassem em aumentar a capacidade para atender a demanda atual e futura”, completa.


A Suvinil, da Basf, líder do mercado de tintas, resolveu mudar o regime de turnos. Suas duas fábricas – em São Bernardo do Campo (SP) e Joboatão dos Guararapes (RE) – sempre operaram em três turnos. Mas ficavam paradas aos domingos. Em um acordo com o sindicato, os funcionários passam a trabalhar seis dias e a folgar três. Assim, as fábricas operam sete dias por semana, 24 horas por dia. A Suvinil irá contratar 140 funcionários – dos quais 80 já estão trabalhando – até março do próximo ano. Atualmente, a divisão de tintas da Basf tem 1151 funcionários. “Era a única saída para aumentar a produção sem investimento imediato”, afirma Antonio Carlos Lacerda, vice-presidente de tintas da Basf. A medida, implantada no fim de maio aumentou a produtividade em 25%, o equivalente a 50 milhões de litros por ano.


A remodelação dos turnos foi adotada pela Suvinil porque os investimentos em ampliação das fábricas – R$ 50 milhões em fábrica de São Bernardo do Campo e R$ 20 milhões em Jaboatão – devem demorar entre 18 e 24 meses para ser concluída. A capacidade produtiva da empresa, hoje em 250 milhões de litros de tintas/ano vai passar de 300 milhões, após a ampliação. A empresa cresceu 30% no primeiro semestre sobre igual período de 2009, auge da crise do segmento.


A Randon Implementos, fabricante de semirreboques rodoviários e vagões ferroviários, vem aumentando desde dezembro o número de linhas que operam com terceiro turno nas plantas de Caxias do Sul (RS) e Guarulhos (SP). A medida foi adotada porque o ritmo da retomada dos negócios depois da crise econômica já levou a empresa para bem próximo do limite da capacidade de produção de 120 unidades por dia em dois turnos de trabalho.


“Boa parte das fábricas já está operando em três turnos”, diz o diretor executivo Norberto Fabris. Segundo ele, as linhas de semirreboques basculantes e canavieiros, de vagões ferroviários, de pintura, caldeiraria e estamparia estão entre as que funcionam das 2 horas da madrugada às 7h12min. Cerca de 300 funcionários já trabalham no terceiro turno, do total de 4,5 mil das duas unidades – incluindo pessoal administrativo e de apoio.


O número pode aumentar se a Randon tiver que estender o turno da madrugada a outras áreas para ampliar a capacidade para 135 unidades diárias, explicou o executivo. Desde setembro, quando a crise começou a ficar para trás, a empresa já abriu um total de mil novas vagas de trabalho.


Conforme Fabris, a Randon Implementos tem 9,5 mil unidades na carteira de encomendas (entre vagões e semirreboques), nível equivalente ao patamar recorde de dois anos atrás, antes da explosão da crise em setembro de 2008. Só para a MRC Soluções em Logística Ferroviária (do grupo Mitsui), a empresa vendeu 1.150 vagões para transporte de grãos, que serão entregues a partir do mês que vem até junho de 2011.


A companhia já havia adotado o terceiro turno em algumas linhas em 2004, 2007 e 2008. De acordo com Fabris, quando a demanda cai e a empresa volta a trabalhar em dois turnos, o ajuste da mão de obra é feito preferencialmente pela suspensão dos contratos com empresas terceirizadas. Demissões são o último recurso.


Na Cummins, fabricante independente de motores, o terceiro turno também foi implementado, ainda no primeiro semestre, na fábrica de Guarulhos (SP).

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