A suspeita inicial de que uma falha nos freios teria causado o acidente desta quarta-feira em Buenos Aires, responsável pela morte de pelo menos 50 pessoas, aumentou as críticas sobre o já contestado sistema ferroviário argentino.
Uma das mais de 600 pessoas feridas no acidente disse ter ouvido do próprio condutor que o trem não tinha condições nem de sair da estação. E dirigentes do sindicato dos ferroviários se apressaram para pedir mais investimentos no setor e denunciar que o comboio que descarrilou ao se aproximar da estação Once, na capital, tinha entre 40 e 50 anos de uso.
– A responsabilidade é da empresa (Ferrocarril Sarmiento), que está marcada pela falta de manutenção, pela falta de prevenção e pela improvisação em todo o serviço. Por outro lado, há também a falta de controle de todos os organismos oficiais – disse Edgardo Reinoso, do sindicato dos ferroviários.
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O acidente aconteceu no momento em que o governo da presidente Cristina Kirchner estuda revisar os subsídios concedidos ao setor. O auxílio faz as passagens serem atualmente muito baratas, e muitos denunciam que isso acaba minando a possibilidade de investimentos maiores no sistema ferroviário.
– Faz anos que a presidente escuta, lê e vê essas denúncias, e não faz nada! – disparou o deputado Fernando Pino Solanas, pedindo a demissão dos responsáveis. – O novo e maior acidente que aconteceu hoje demonstra que o governo é surdo ao pedido da enorme população de trabalhadores que está condenada a tomar este inseguro e criminoso sistema de transportes.
De acordo com os passageiros, o trem estava lotado. Enquanto alguns diziam que os freios haviam funcionado nas estações anteriores, outros afirmavam que o maquinista já vinha enfrentando problemas.
— Ele vinha em altíssima velocidade. Já vinha sem freios desde Haedo. Ia com as portas abertas — contou um passgeiro ao canal Todo Notícias. — Entrou muito rápido na estação. Foi um golpe fortíssimo. Estávamos todos desesperados, tentando sair.
Nas redes sociais, internautas reclamaram das condições dos trens argentinos. “Se a linha estivesse em condições e retirassem os trens velhos, isso não aconteceria”, disse Juan Cruz Foletto no Twitter.
Só em 2011 o criticado sistema ferroviário argentino teve cinco acidentes graves. No maior deles, em setembro, sete pessoas morreram e mais de 200 ficaram feridas num choque envolvendo dois trens e um ônibus em Buenos Aires.
Uma grande operação foi mobilizada para resgatar as vítimas do acidente na manhã desta quarta-feira. Os freios teriam falhado quando a composição da empresa Ferrocarril Sarmiento chegava à estação Once, vinda de Moreno.
O trem descarrilou por volta das 8h30m e acabou por se chocar com uma barreira perto de onde passageiros aguardavam para embarcar, no que já é considerado o terceiro pior acidente ferroviário da história do país. Inicialmente, falou-se num choque com outro trem, versão mais tarde descartada.
— Foi muito forte. Eu quebrei o braço. Caímos uns em cima dos outros — contou Delia, uma passageira que ia de Merlo a Buenos Aires.
Cerca de 15 ambulâncias foram enviadas ao local e o número de pessoas internadas estava por volta de 190, em 13 hospitais da capital argentina. De 50 a cem estariam feridos com gravidade. Entre os mortos, estão 48 adultos e um menor de idade. Segundo o Consulado do Brasil em Buenos Aires, não há informação de brasileiros entre as vítimas.
Um dos resgates mais dramáticos foi o do condutor, que estava preso nas ferragens. O acidente está sendo investigado, e nenhuma possibilidade foi descartada pelas autoridades argentinas.
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