Não há garantia de retorno permanente para quem investe em monotrilhos, empreendimento que leva cerca de 40 anos para se pagar. A Tokyo Monorail, criada em 1964 para ligar Tóquio ao aeroporto de Haneda, já teve uma vida mais fácil. Hoje sofre para manter suas receitas por causa da concorrência. Durante anos, a demanda pelo monotrilho acompanhou o movimento crescente de passageiros do aeroporto. Mas, a partir de 1998, a empresa viu o número de seus usuários cair, depois que foi criada uma linha de trem expresso para o aeroporto. Esse não tem a vista e a beleza do monotrilho, mas é mais rápido, o que é fundamental para quem viaja.
O monotrilho prestou serviços a quase 70% dos usuários do aeroporto de Narita, que chegou a 1,6 bilhão em 2008. A construção do trem expresso, porém, fez a demanda cair para 30% , explica Kiichi Hanabusa, diretor-executivo da Tokyo Monorail. Com isso, o monotrilho, que tem capacidade para até 303 mil passageiros por dia, está atendendo apenas 130 mil. Haneda é o quarto aeroporto mais movimentado do mundo.
A concorrência no transporte ao aeroporto tem crescido mais, com ônibus especiais com rotas para a cidade, que são ainda mais baratos. O preço da viagem de monotrilho de Hamamatsucho (onde há estações de trem e metrô) até o aeroporto é de 470 ienes, ou R$ 8,90. A viagem de ônibus pode sair por menos, dependendo do destino na cidade, porém, tende a levar mais de 40 minutos, enquanto que no monotrilho são apenas 16 minutos.
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Quanto à disposição do paulistano em pagar um valor provavelmente mais elevado pelo transporte do que paga no ônibus hoje, o executivo da Hitachi não mostra preocupação. “Qualquer alternativa de transporte público em São Paulo terá demanda”, diz Tetsuro Hori, gerente-geral de vendas globais da Hitachi, que fez o Tokyo Monorail.
O monotrilho de Tóquio custou 21,12 bilhões de ienes, em valores de 1964. Se considerada a inflação de 400% de lá até 2010, o custo seria atualizado a cerca de 84 bilhões de ienes. O monotrilho chinês, de 2005, custou 47 bilhões de ienes (R$ 2,37 bilhões).
A Tokyo Monorail sofreu recentemente com alterações em sua estrutura acionária. Uma joint venture foi criada em 64 para administrar o monotrilho em que 70% das ações da empresa seriam da JR Leste, a companhia que administra o sistema ferroviário na região. Os demais sócios eram a Hitachi, com 12%, a All Nippon Airways (ANA), com 9% e a Japan Airlines (JAL), com outros 9%. Com a falência recente da JAL, a JR Leste teve de assumir as ações que eram da aérea.
Em Tóquio, inicialmente o monotrilho ligaria apenas a estação de Hamamatsu até Haneda, mas, ao longo dos anos, também foram criadas estações intermediárias para elevar a demanda pelo transporte e atender a população que se concentrou ao longo do trajeto durante as décadas, explica Hanabusa, do Tokyo Monorail. “Avaliamos um raio de 600 metros da estação, que é beneficiado.” Também foi criada uma alça para que um veículo possa ultrapassar outro. Dessa forma, pode haver uma rota que pare em todas as estações e outra que faça a conexão direta entre Hamamatsu e Haneda, sem paradas. Há, ainda, outra rota, que para em apenas parte das 10 estações.
Os atuais desafios do monotrilho de Tóquio, com mais quase 50 anos, são melhorar o conforto dos usuários, melhorar o equipamento e o acesso expresso do aeroporto e desenvolver novos veículos, mais modernos.
No monotrilho, a sensação ao usuário realmente é mais agradável do que em uma viagem de trem ou metrô, pela sensação de correr sobre a cidade. Ele fica a mais de 10 metros de altura e, por vezes, pode dar uma impressão de via expressa, como o Elevado Costa e Silva (o Minhocão), em São Paulo, ou a Linha Vermelha, no Rio, mas com um visual externo muito mais agradável do que em ambas nacionais. Debaixo, seu impacto visual também é menor do que o do Expresso Tiradentes, em São Paulo, porque sua estrutura bloqueia menos o céu.
No caminho de Hamamatsucho até o aeroporto, há também uma visão privilegiada do Monte Fuji. Como sua função principal é levar passageiros ao aeroporto, há espaços para a bagagem entre os assentos. Um vento mais forte pode causar algum desconforto aos passageiros, mas o monotrilho também tem um sistema específico para minimizar o impacto da corrente que vem do mar. Ele também possui sistema de desligamento automático contra terremotos e nunca teve nenhum acidente com lesão de humanos desde 1964.
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