Artigo: Madeira na retomada do transporte ferroviário

*Flavio C. Geraldo


A conhecida expressão popular “O Trem Bão Sô!” cuja origem traduz a eficiência e a representatividade que um dia o transporte ferroviário teve no Brasil. O “Roskopf Patent” era então sacado do bolso do colete dos nossos avôs, e eram acertados com base na passagem dos trens por determinados lugares, tal era a qualidade dos serviços oferecidos. A expressão continua forte, contudo, não podemos afirmar o mesmo do transporte ferroviário, que desde seus tempos áureos nas décadas de 40 e 50, perdeu espaço devido à política de priorização do transporte rodoviário.


Naquela época a malha ferroviária brasileira era da ordem de 37 mil quilômetros de trilhos, hoje estamos reduzidos a 29 mil quilômetros de ferrovias. As indicações são de que se inicia uma retomada de investimentos que promete devolver ao setor ferroviário a importância que um dia teve. Fala-se em investimentos de R$ 71 bilhões para os próximos cinco anos, tanto por parte dos setores governamentais como do setor privado. Parece ser uma retomada global, afinal o mesmo fôlego tem surgido em países como os Estados Unidos, China, Índia, entre vários outros países europeus.


Para o setor industrial como um todo essas decisões já refletem em investimentos na expansão de unidades fabricantes de equipamentos pesados. Para o departamento industrial madeireiro parece estarmos entrando numa agradável sensação de “déjà-vu” afinal, foi o setor ferroviário, o grande responsável pela introdução da “eucaliptocultura” no Brasil.
No início do século passado a cultura dessa essência foi estabelecida com o objetivo de fornecer lenha para as locomotivas, as velhas e saudosas “Marias Fumaça”, em especial para a produção de dormentes que à época, eram também produzidos ao longo das linhas férreas conforme as necessidades. Eram os primeiros passos com base em ações de sustentabilidade. Os registros existentes dão conta das preocupações com a conservação das florestas nativas, uma vez que boa parte dos dormentes de madeira era obtida de espécies tropicais da mata atlântica.


A realidade quanto à produção de dormentes ferroviários hoje é outra. A cultura do eucalipto no Brasil é exemplo de sucesso em todo o mundo, inclusive no seu país de origem. As espécies de eucalipto com propriedades tecnológicas adequadas, aliadas às técnicas silviculturais, que permitem a garantia da disponibilidade da matéria prima de qualidade, são apenas alguns dos fatores que o setor ferroviário pode contar para a segurança da aplicação de investimentos da envergadura mencionada.


A produção de dormentes de eucalipto tratados hoje no Brasil está muito bem distribuída por todo o território nacional, com capacidade industrial instalada, apta a atender a demanda requerida para as expansões e reposições necessárias. Com base nas informações de que nos próximos cinco anos o plano de expansão prevê um adicional de 8 mil quilômetros de ferrovias, torna-se possível estimar uma necessidade que chega a pelo menos  12,5 milhões de dormentes no período.


Aliado a isso, os custos unitários e a mensagem ambiental que pode ser traduzida como material obtido de um recurso natural renovável de ciclo curto torna o dormente de eucalipto tratado à alternativa que pode contribuir com a melhor adequação dos recursos previstos para tais planos de expansão.


O setor de preservação de madeiras no país tem plena consciência dessa responsabilidade, e está pronto para o desafio de qualquer demanda respeitando todos os critérios de qualidade. Afinal, somos os primeiros interessados na manutenção do que representa a expressão que serve de título a esta mensagem.


*Flavio C. Geraldo é Diretor da ABPM  (Associação Brasileira de Preservadores de Madeira) e Gerente de Mercado da Arch Química Brasil Ltda

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