Os americanos estão hoje sob o mesmo desafio em que nós russos estávamos, no final do século XIX, quando o czar decidiu, contra tudo e contra todos, construir a Ferrovia Transiberiana. Assim o presidente da RZD – a ferrovia russa – Vladmir Iakunin, futuro presidente da União Internacional das Ferrovias – UIC –, saudou ontem, dia 9, erguendo seu copo, os delegados ao Congresso de Alta Velocidade reunidos na Filadélfia, durante o jantar de abertura, no hotel Marriot.
Iakunin assume a UIC no início do ano que vem, substituinido Yoshio Ishida, vice presidente da East Japan Railway Company (JR East). Será o mais poderoso dos presidentes da entidade internacional, que reúne todas as ferrovias do mundo, menos as americanas (e as brasileiras). Ele administra 85,2 mil km de linhas, um bilhão de passageiros/ano, 1,2 bilhão de toneladas de carga e 1 milhão de funcionários. Está concluindo, além disso, o maior programa de revitalização de ferrovias jamais visto, em escala russa, como diz o atual diretor geral da UIC, Jean Pierre Loubinoux: 13 trilhões de rublos (400 bilhões de dólares) para remodelar linhas, estações e renovar a frota de locomotivas, carros e vagões. Não por outro motivo, todas as grandes indústrias ferroviárias do mundo, da Bombardier à Pandrol, estão abrindo fábricas por lá.
Hoje, terça-feira, Iakunin, Loubinoux – que permanece no cargo – e outros dignatários vão ao Congresso americano, em Washington, fazer lobby em favor do trem de alta velocidade americano, que na verdade ainda não saiu do papel (o Acela, entre Washington, Pensilvânia, Nova Iorque e Boston, corre sobre linha convencional e raramente ultrapassa 200 km/h). Os EUA, fiéis ao capitalismo privado, continuam resistentes a investir milhões de dólares de dinheiro público em um empreendimento que não fica de pé sozinho. A linha de financiamento oferecida pelo governo Obama poderá ajudar, mas fica longe do necessário para uma verdadeira linha de alta velocidade. Na sexta-feira passada (06/07), o Congresso da Califórnia aprovou um programa semelhante ao que recusou no governo Arnold Schwarzenegger. Talvez agora saia. Mas vai precisar de um czar.
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