O destino da Brasil Ferrovias, grupo que reúne as estradas de ferro Novoeste, Ferroban e Ferronorte, será decidido até o fim deste mês. Os principais acionistas – os fundos de pensão Funcef e Previ e o BNDES, todos ligados ao governo –, analisam as propostas de interessados em adquirir os ativos das empresas. A América Latina Logística (ALL) é apontada por analistas como favorita no processo.
Independentemente do resultado da venda, entretanto, os atuais controladores vão arcar com um prejuízo que pode chegar a centenas de milhões de reais. Será o ato final de uma seqüência de erros iniciada na década de 90, quando as ferrovias foram privatizadas, e prolongada até a atual gestão, que não conseguiu reduzir significativamente a dívida da empresa, hoje na casa de 1,5 bilhão de reais.
O processo de reestruturação financeira do grupo, iniciado em maio de 2005 e concluído em outubro do mesmo ano, custou quase 1 bilhão de reais para os acionistas, se forem somados os aportes de capital, os novos empréstimos do BNDES e a conversão de dívida em participação acionária. Os fundos possuem, cada um, 25% das ações do grupo, enquanto o BNDES ficou com 43,6% de participação. Apesar do reforço financeiro, não se avalia, no mercado, que as ofertas pela empresa possam ultrapassar a casa dos 500 milhões de reais, considerado o potencial de faturamento da companhia no futuro.
Segundo o presidente da Funcef, Guilherme Lacerda, a Brasil Ferrovias recebeu dos fundos de pensão, até agora, 650 milhões de reais em investimentos. “O objetivo, hoje, é interromper as perdas e recuperar parte do que já foi gasto”, admite o executivo. “O ideal talvez fosse vender tudo mais tarde, mas operar Ferrovias não é tarefa de fundos.” Lacerda acredita que o resultado das empresas será positivo a partir de 2007.
Depois da reestruturação, a Brasil Ferrovias foi cindida em duas holdings: Nova Brasil Ferrovias e Novoeste Brasil. A primeira reúne parte da Ferronorte e da Ferroban no corredor formado pelos trilhos de bitola larga. Apesar de mais moderna e promissora em volume de cargas, a Nova Brasil Ferrovias recebeu apenas uma proposta de compra, da ALL. Esperava-se que outra operadora ferroviária, a MRS, também entrasse na disputa.
Já a Novoeste Brasil, que inclui o trecho de bitola estreita da Ferronorte e capta cargas no interior de São Paulo e Mato Grosso do Sul, ganhou mais atenção nas últimas semanas por ser alvo de ofertas de pelo menos quatro grupos: o consórcio coreano Asia Latin Marketing Center (Asila), a chinesa Jiancsu Zhongye Iron & Steel e a boliviana Ferrovia Oriental (controlada pelo grupo americano Genesee&Wyoming), além da ALL, única empresa a fazer oferta por toda a Brasil Ferrovias. Uma das justificativas para o interesse estrangeiro seria a possibilidade de uma futura ligação entre o Brasil e a costa do Pacífico, a partir das linhas da Novoeste. O projeto é cogitado em até 70 bilhões de reais e tem remotas chances de sair do papel, segundo especialistas em logística.
Para o sócio-diretor da Trevisan Consultores, Richard Dubois, o grupo que assumir as operações da Brasil Ferrovias terá de realizar investimentos bilionários para desenvolver todo o potencial da malha ferroviária do grupo. Mas o dinheiro, segundo o consultor, só fará sentido se for acompanhado de competência administrativa. “É preciso mudar o modelo do negócio, deixar de tratar o grupo como estrada de ferro e transformá-lo em uma empresa de logística integrada, capaz de buscar as cargas do cliente, mesmo que seja preciso usar caminhões, e embarcá-la no porto. A ALL é a empresa com melhores condições de promover essa mudança.”
Analistas também apostam que a ALL, única a apresentar oferta pelo corredor de bitola larga, tem
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