Marcus Quintella, diretor-técnico da CBTU
O primeiro bonde brasileiro surgiu em 1859, no Rio de Janeiro, puxado a burro, fazendo a ligação entre o Largo do Rocio e o Alto da Boa Vista. Em 1862, com a substituição da tração animal pelas máquinas a vapor, os bondes se espalharam pela cidade. Trinta anos mais tarde, em 1892, foi inaugurada a primeira linha de bondes movidos à energia termoelétrica e, em 1896, foram eletrificadas as primeiras linhas, a começar por Santa Teresa, e, em seguida, houve uma grande expansão dos bondes na cidade.
Após o advento da eletrificação dos bondes cariocas, em 1892, cerca de 40 cidades brasileiras passaram a contar com sistemas de bondes, tais como Porto Alegre, Pelotas e Rio Grande, Curitiba, São Paulo, Santos, Itatinga, Guarujá, Campinas, São Carlos, Sorocaba, Campos do Jordão, Piracicaba, Niterói, Petrópolis, Belo Horizonte, Juiz de Fora, Recife, Fortaleza e São Luis, entre outras.
De 1950 a 1967, ocorreu a decadência e a desativação dos bondes no Rio de Janeiro, bem como no restante do país, e, a partir de 1968, os bondes passaram a circular apenas no bairro de Santa Teresa. Hoje em dia, existem bondes apenas no Rio de Janeiro, em Santa Teresa, Campos do Jordão e Itatinga, com uma linha em cada uma dessas cidades, além das linhas turísticas de Campinas e São Paulo.
No entanto, após um longo e tenebroso inverno de quarenta anos, os bondes estão prestes a ressurgirem nas cidades brasileiras, agora sob a denominação moderna de Veículo Leve sobre Trilhos (VLT). Os VLTs também são conhecidos por streetcar ou Light Rail Vehicle (LRV), nos EUA e Canadá; elétrico, em Portugal; e Tram, abreviação de tramway ou de tranvía, em países da Europa. Na realidade, todos são bondes modernos, que, nos últimos 20 anos, podem ser encontrados na Europa, Estados Unidos e Canadá, em mais de 200 cidades. Na América Latina, existem VLTs apenas em Buenos Aires, Guadalajara e Cidade do México.
Para esclarecer o leitor, o VLT é uma forma de transporte público sobre trilhos com capacidade de transporte e velocidade inferiores aos metrôs e trens urbanos, que, usualmente, utiliza tração elétrica e pode conviver na rua com os outros modos de transporte ou utilizar vias segregadas. Os VLTs atuam numa faixa de capacidade entre 10 mil e 25 mil passageiros/hora/sentido, ou seja, média capacidade de transporte. São veículos seguros, rápidos e confortáveis, integram-se, facilmente, com os sistemas de ônibus e metrô, não poluem o meio ambiente – quando elétricos – e possuem um ciclo de vida de mais de 30 anos.
A volta dos bondes no Brasil acontecerá, inicialmente, por Recife e Fortaleza, com investimentos do Governo Federal, por meio da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), empresa vinculada ao Ministério das Cidades. Os VLTs dessas cidades serão movidos a diesel e trafegarão em vias segregadas. No caso de Recife, serão sete VLTs, com três carros cada um, para o trecho Cajueiro Seco-Cabo, na Linha Sul, cuja licitação já foi realizada e encontra-se, atualmente, na fase de julgamento dos documentos da habilitação preliminar, para, em seguida, entrar na fase da abertura das propostas de preços. Os VLTs de Fortaleza também já foram licitados, com seis VLTs de quatro carros, para o trecho João Felipe-Caucaia, Linha Oeste, e encontram-se na fase de homologação da licitação. Em 2009, a CBTU deverá receber recursos do Governo Federal para investir nas cidades de Maceió, João Pessoa e Natal, para a substituição das locomotivas diesel e carros de passageiros por VLTs diesel. Se tudo correr bem, no primeiro semestre de 2010 teremos os primeiros VLTs trafegando em Recife e Fortaleza.
Tudo isso nos transmite um grande otimismo pela volta triunfal dos bondes, não apenas para essas cidades nordestinas, mas também para as demais cidades ou regiões metropolitanas brasileiras que possuam corredores de transporte com carregamentos de média capacidade de transporte de passageiros, tais como aquelas mesmas cidades que já tiveram sistemas de bondes, há quarenta anos.
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