Quadro de inviabilidade econômica, clima de desunião entre os estados nordestinos e prejuízo para o escoamento da produção agrícola no oeste da Bahia, território que hoje responde por quase 70% da produção de grãos da região. Esses são alguns dos problemas que serão gerados caso sejam concretizadas as alterações no traçado do projeto de construção da Ferrovia Transnordestina.
O alerta, feito pelo secretário estadual do Planejamento, Armando Avena, aponta ainda para um aumento considerável nos custos do empreendimento. Com as mudanças, a implantação da ferrovia exigirá um investimento da ordem de R$4,5 bilhões, valor oito vezes maior que o montante estimado inicialmente, que era de cerca de R$500 milhões.
Aliado ao desperdício de recursos – os quais poderiam estar sendo aplicados na melhoria das vias de transportes já existentes -, será deixado de fora também do processo o maior pólo de desenvolvimento regional do Nordeste, situado em Juazeiro e Petrolina, destaca. A afirmação vem como resposta também ao comentário feito pelo diretor da Companhia Ferroviária do Nordeste (CFN), Jorge Mello, de que a Bahia é um estado bairrista e que defende apenas seus interesses quando o assunto é o escoamento da produção agrícola. Sob a alegação de que é preciso buscar cargas âncoras, com grandes volumes que possam suportar os custos fixos da ferrovia, a CFN transferiu para o Piauí o ponto de captação da produção de grãos.
Segundo Avena, até pouco tempo atrás a Transnordestina era motivo de união entre os estados locais, já que o traçado original tinha como proposta interligar o cerrado setentrional aos portos do litoral, viabilizando rotas de escoamento que beneficiariam todos os territórios estaduais.
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Com base na proposta inicial, a ferrovia partiria do bipólo Juazeiro/Petrolina até o município de Salgueiro, em Pernambuco. Dessa forma, os quatro grandes portos do Nordeste – Suape, Pecém, Aratu e Itaqui – estariam interligados às regiões produtoras, argumenta. Contudo, com as modificações feitas pelo governo federal, o novo trecho partirá de Eliseu Martins, no Piauí, uma região de baixíssima densidade econômica, e seguirá em direção aos portos de Suape, em Pernambuco, e Pecém, no Ceará.
Conforme explica, com a proposta original seria viabilizado o escoamento da produção de grãos do sul do Maranhão, sul do Piauí e oeste da Bahia – que deve confirmar em 2005 a marca de 5,6 milhões de toneladas.
Outra vantagem apontada, está no fato de que a produção baiana ficaria na boca da ferrovia, possibilitando inclusive o uso da Hidrovia do São Francisco. Já com as alterações, as cidades de Juazeiro e Petrolina, área hoje conhecida como a capital do Nordeste Setentrional, ficarão muito distantes da nova ferrovia. Ou seja, vamos ter um empreendimento que vai se concentrar em atender apenas aos interesses do Piauí e da própria Companhia Ferroviária. Além disso, na nova rota a única atividade de porte está no pólo gesseiro de Araripe, que seria melhor servido se a ferrovia saísse de Petrolina, ressalta.
De acordo com o secretário, a Bahia não é contra a construção da Transnordestina, mas apenas ao traçado que substituiu o programa inicial. O novo projeto é tão antieconômico que ele até prevê o transporte de passageiros em vagões de dois andares. A questão é que a população carente do Nordeste não terá condições de arcar com o valor da passagem, comenta.
Para Armando, o projeto atual apresenta uma taxa de retorno extremamente baixa, além de requerer uma engenharia financeira baseada na utilização de bilhões de reais dos cofres públicos.
Outro ponto levantado está na inconsistência dos estudos que sustentam essas alterações, já que eles afirmam que a ferrovia irá transportar 30 milhões de toneladas de grãos, mas a produção do cerrado só alcançará 25 milhões de toneladas em 2024, sendo que 50% desse total terá origem na Bahia, que, devido à distância, dificilmente tomará o rumo da
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