O presidente da Vale do Rio Doce, Roger Agnelli, considerou inconsistentes e inadequados os pareceres da SDE (Secretaria de Direito Econômico) e da procuradoria do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) que impõem algumas restrições à mineradora, como a de vender a parte que exceder os 20% de participação na ferrovia MRS, um dos principais canais de escoamento do aço para exportação.
Segundo ele, essa decisão só atende o interesse de duas siderúrgicas, a Gerdau e a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional). Os dois pareceres ainda não são definitivos e ainda precisam passar pelo crivo do Cade.
Segundo Agnelli, a repercussão dessa disputa com as siderúrgicas nos órgãos de defesa governamental fez com que o valor da Vale no mercado de ações caísse US$ 3,5 bilhões nos dois últimos dias. Ele acha que essa discussão deveria se restringir ao âmbito privado. `O governo não deveria se meter nisso`, afirmou Agnelli, que, nos últimos dias, encontrou-se com a ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, para, diz ele, tratar de outros assuntos.
A queda-de-braço entre a Vale e as siderúrgicas se dá em torno do controle da MRS. Com a compra da Ferteco e da MBR (ex-Caemi), a Vale passou a deter 40% de participação do capital da ferrovia, o que dá um poder à mineradora maior do que o de seus outros sócios, as siderúrgicas, entre elas a Gerdau e a CSN. A ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres), que regula o setor, tinha limitado em 20% a participação de cada empresa na MRS.
Agnelli diz, no entanto, que não é contra uma negociação entre as siderúrgicas para encontrar uma forma de reequilibrar o poder de forças na ferrovia. Ele argumenta que a Vale comprou as mineradoras Ferteco e MBR num momento em que nenhuma empresa se interessava tanto pelo setor de mineração como de FERROVIA. Só depois da explosão de crescimento da China, com o aumento de procura por minério de ferro, que essas duas áreas voltaram a se tornar atraentes, afirma.
Em quatro anos, o preço do frete de minério transportado por ferrovia subiu de US$ 9 para US$ 50. Agnelli argumenta também que, nesses últimos quatro anos, a Vale investiu em ferrovia 60% do que o país investiu na história no setor. Segundo ele, a mineradora investiu em média cerca de US$ 800 milhões ao ano nessa área.
O presidente de uma grande siderúrgica, que preferiu não se identificar, disse à Folha que o que as siderúrgicas defendem é um equilíbrio de poder na MRS. O que as empresas não querem é que a Vale continue com o controle da MRS, com os 40% que tem do capital. Segundo o empresário, as negociações com a Vale estão próximas de um desfecho.
Em outro front, o parecer da SDE também determinou o fim do direito de preferência da Vale no excedente de produção do minério de Casa de Pedra, da CSN. Segundo Agnelli, trata-se de outra decisão inconsistente, já que esse direito da Vale faz parte do acordo de descruzamento de ações feito por ela e pela CSN, há quatro anos. Segundo Agnelli, essa cláusula tem um valor que foi negociado no descruzamento, e, para ser mudado, a CSN precisaria restituir a Vale. Procuradas pela Folha, Gerdau e CSN não quiseram de pronunciar.
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