Símbolo do progresso em Bauru e região no início do século passado, a ferrovia está com trechos de linhas comprometidos. Após quatro descarrilamentos em menos de dez dias neste mês em Bauru, o Jornal da Cidade, acompanhado por um especialista na área, percorreu trecho da linha férrea entre Bauru e Pederneiras. A reportagem constatou que mais de 50% dos dormentes do trecho percorrido estão comprometidos, podres ou com falhas do madeiramento que sustenta os trilhos.
Na linha que liga Bauru a Itirapina, do quilômetro 310 mais 465 metros da malha de bitola larga – perímetro urbano de Pederneiras, próximo ao Horto do Aimorés – ao quilômetro 310 mais 586 metros, 53,4% do madeiramento está comprometido. Nesse trecho, escolhido ao acaso, a reportagem contou um total de 204 dormentes de fixação, sendo que 83 deles estão deteriorados e mais 26 estão faltando.
Um pouco à frente, seguindo em direção a Bauru, a situação é ainda pior. Próximo a um pequeno viaduto, sobre uma estrada de terra, a equipe contou 100 dormentes – 50 antes e 50 após a elevação. Desse total, 68 placas de madeira estão podres. Um índice de 68% de peças em estado crítico.
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No quilômetro 312 mais 595 metros, cerca de um quilômetro à frente do local descrito no parágrafo acima, há outro viaduto férreo. A mesma contagem foi realizada e, dos 100 dormentes verificados, 67 estão em avançado estado de deterioração, ou seja, 67% deles estão ruins.
Segundo um engenheiro ferroviário que trabalhou durante mais de dez anos na Rede Ferroviária Federal (RFFSA) da região e acompanhou a reportagem, mas que prefere não se identificar, a situação não condiz com as recomendações de conservação do madeiramento.
O especialista, que já foi chefe de maquinista, apresentou um documento de normatização técnica da antiga RFFSA, datado de maio de 1991. Nele, engenheiros da empresa apresentam um estudo constando que, num determinado trecho ferroviário, no máximo 15% dos dormentes podem estar danificados, sem incorrer em risco de acidentes.
Riscos multiplicados
Durante a caminhada de mil metros, também foi possível observar a ausência de parafusos de fixação e dezenas de dormentes apodrecidos. Num determinado trecho, o JC constatou uma seqüência de 14 peças de madeira podres e mais três inexistentes.
De acordo com especialista, em situações como a descrita acima, os riscos de acidentes são multiplicados. “O vagão tem seis rodas, duas em cada extremidade. O par de rodas ocupa em média quatro dormentes. Se a seqüência de madeiras comprometidas for igual ou maior a quatro, significa dizer que na certa haverá um descarrilamento”, afirma.
O precário estado de conservação do madeiramento, que tem vida média de dez anos, foi a causa dos últimos acidentes registrados na malha bauruense nos últimos meses, segundo o engenheiro férreo. Ele explica como ocorre o processo. “O trilho é preso no dormente por intermédio de uma placa de apoio e um parafuso de fixação. O comboio viaja com um determinado nível de mobilidade para os lados (chacoalhos). Quando ele passa por um madeiramento podre, o trilho pode se abrir, porque o dormente não tem capacidade de sustentar o peso, e quebrar, causando o descarrilamento.”
Perigo no viaduto
De acordo com a norma técnica apresentada pelo engenheiro ferroviário, é recomendável que o máximo de dormentes deteriorados atinja 10% de um determinado trecho próximo de viadutos férreos. Nos dois viadutos visitados pela reportagem essa média ficou 57,5% acima do permitido, pelo estudo da RFFSA. Além disso, um deles tem madeiramento podre suspenso, há cerca de sete metros de altura.
Para o engenheiro ferroviário, tal fato compromete vidas humanas e áreas verdes. “Imagine o que uma queda dessa pode causar a um carro ou transeunte que esteja passando aqui embaixo. Além disso existe o risco de explosão, queimada e contaminação de mananciais, já que neste t
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