Implantar um sistema de conexões mais amplo, eficaz e barato, capaz de envolver até quatro meios de locomoção em uma mesma jornada ainda é um desafio no país.
A integração modal é fundamental para aumentar as possibilidades de deslocamentos e melhorar a qualidade de vida da população, afirma Bernardo Serra, gerente de Políticas Públicas do ITDP (Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento).
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Para isso é preciso haver antes uma integração física dos meios de transporte, informações precisas sobre horários e rotas e tarifas que incluam desconto na segunda passagem ou até eliminem o pagamento de viagens posteriores, diz.
Essa realidade, no entanto, ainda está distante. Segundo levantamento do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), 48% dos usuários de transporte público levam mais de duas horas apenas para em uma integração ônibus-ônibus.
A agente dos Correios Elizabeth dos Santos, 46, que trabalha na capital mineira e mora em Lagoa Santa, região metropolitana de Belo Horizonte, é uma dessas usuárias. Ela enfrenta diariamente um transporte público superlotado e em más condições. Eu já registrei até boletim de ocorrência contra uma empresa de ônibus. São veículos estragados, velhos.
Um sistema integrado ajudaria a cobrir grandes distâncias entre os bairros e o centro em menos tempo. Neste modelo, há lugar para bicicletas e aplicativos.
Em São Paulo, por exemplo, mais de 60% das estações de ônibus, metrôs e trens contam com infraestrutura cicloviária próxima. Nas demais cidades do país, esse número cai para menos de 20%, segundo dados de 2019 levantados pela plataforma Mobilidados.
Outro desafio diz respeito à administração pública. Em muitas cidades, o metrô está sob o controle do governo estadual, enquanto os ônibus estão sob responsabilidade da prefeitura, diz Serra. Essa falta de comunicação dificulta a integração.
Em Belo Horizonte, o cartão do transporte coletivo, o BHBus, é gerenciado pelo município, enquanto o Ótimo, para acesso aos ônibus da região metropolitana, é do estado.
Não há nem mesmo a lógica de pagar metade da passagem na segunda viagem, afirma Leandro Cardoso, professor da Universidade Federal de Minas Gerais.
Soluções tecnológicas já existem. A empresa OnBoard Mobility desenvolveu um sistema de bilhetagem digital, pelo qual o usuário cria uma conta, carrega créditos e acessa diferentes transporte com seu smartphone.
Os pagamentos são feitos por meio de QR code, pulseira inteligente ou aplicativo, e o passageiro pode optar entre ônibus, metrô, trem ou bicicleta compartilhada. O projeto já está em fase de testes em Uberaba (MG), Apucarana (PR) e Brasília.
O conteúdo deste especial foi produzido pelos participantes do Lab 99+Folha de Mobilidade Urbana. Ao longo de dois meses, 30 estudantes do último ano do curso de jornalismo e recém-formados de 21 cidades do Brasil participaram de um programa que envolveu, além de palestras online com especialistas e profissionais da Folha, a elaboração de reportagens com diagnósticos e desafios da mobilidade em tempos de pandemia.
Devido ao risco de contágio pelo novo coronavírus, os integrantes do programa foram orientados a priorizar os canais digitais na produção dos seus trabalhos.
A iniciativa, fruto da parceria da Folha com a empresa de tecnologia em mobilidade urbana 99, busca contribuir para a formação e o aperfeiçoamento de profissionais voltados para a cobertura dessa que é uma das mais urgentes questões no dia a dia das cidades brasileiras. Dentre essas contribuições está a edição inédita do Manual de Jornalismo de Mobilidade Urbana Folha/99, com verbetes específicos sobre o tema.
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