Alba Valéria Mendonça
Tem boi na linha. Também tem cavalo, mato, casebre, praça e até um circo. Curiosamente, a única coisa que não se vê mais nas linhas férreas que cortam o estado é o trem. Deixadas para trás a partir da década de 50 — quando o governo deu ênfase ao sistema rodoviário de transporte de cargas e de passageiros — as ferrovias chegaram a tal estado de abandono que hoje não é mais possível recuperá-las. Das 17 estradas de ferro e linhas que cruzavam bairros e cidades e chegavam a Minas Gerais, São Paulo e Espírito Santo, restam apenas nove em atividade — sendo que das que transportam passageiros, só a Estrada de Ferro do Corcovado (Cosme Velho — Paineiras) mantém o trajeto original completo.
Aliás, a luz no fim do túnel se faz presente justamente neste sentido: o turístico. Segundo historiadores, engenheiros ferroviários e preservacionistas, a saída é a recuperação de estações históricas e do que restou das linhas em atração turística. A Supervia, concessionária que administra as cinco linhas que partem da Central do Brasil, aposta no metrô de superfície.
— No projeto, todos os trens terão ar-condicionado e serão operados por intervalos regulares, como no metrô. Com isso, vamos ampliar o número de passageiros de 540 mil para 800 mil por dia — prevê a diretora de desenvolvimento Regina Oliveira, acrescentando que não há planos para extensão de linhas, que demandam investimentos muito elevados e têm retorno lento demais. — Projetos assim, só a longo prazo.
Terreno da primeira linha férrea foi invadido
O engenheiro ferroviário Helio Suêvo — que lançou um livro sobre a história das ferrovias do Rio, em 2004 — diz que, dos quase três mil quilômetros de linha, hoje restam menos de 50% no estado. Ou até menos, já que os furtos de trilhos e dormentes prosseguem em alta velocidade. Trens apodrecem em gares, linhas inteiras foram aterradas ou asfaltadas e o que restou de trilhos e dormentes virou cercas. Ele lamenta o descaso com a primeira estação do Brasil, de 1854, a Guia de Pacobaíba, em Praia de Mauá, em Magé.
— O Brasil seguiu na contramão ao abandonar a ferrovia. Há um ano, a estação e 300 metros de linha foram recuperados, junto com a prefeitura. Mas a área em frente foi invadida. Não há mais como reativar os sete quilômetros até Bongaba — lamenta Suêvo.
Abandono e descaso viajam por todas as linhas do estado. Em Porto das Caixas, o primeiro túnel ferroviário do país foi soterrado pelo lixo. Em Visconde de Itaboraí, a estação está sem atividade desde novembro — quando roubaram os trilhos da linha de Niterói — e virou pasto e depósito de vagões destruídos. Pontes como a Engenheiro Paulo de
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