O cartão-postal mais vendido nas bancas de revistas da avenida Paulista não é uma imagem de algum ponto turístico de São Paulo. A lembrança preferida por turistas é um desenho estilizado de uma cidade com quilômetros de ruas congestionadas, espirais de viadutos coalhados de carros e quase nenhum espaço para símbolos da metrópole, como o Masp e a praça da Sé. Convertida em suvenir, a imagem do caos viário é a caricatura de um dos maiores problemas da cidade. É também uma prova de que o trânsito faz parte da cultura dos paulistanos. Segundo o Ibope, os habitantes da cidade gastam em média 2 horas e 47 minutos no ir e vir de todos os dias. A frota de São Paulo – hoje em torno de 6,5 milhões de carros – é tão grande quanto a população do Rio de Janeiro. Com 1 000 carros novos nas ruas todos os dias, a capital paulista é pródiga em quebrar os próprios recordes de congestionamento. O último deles ocorreu em 10 de junho, às 19 horas, quando foram registrados incríveis 293 quilômetros de lentidão – metade da distância até Belo Horizonte. Um estudo do Instituto de Assuntos Avançados da Universidade de São Paulo estimou em mais de 4 bilhões de reais por ano as perdas com o trânsito. As soluções apresentadas para o problema com base apenas em pressão sobre os proprietários de veículos – do rodízio de carros à restrição da circulação de ônibus fretados – provocam ceticismo. Não dá para culpar o carro quando não existe opção de transporte público viável, afirma Paulo Resende, pesquisador de logística da Fundação Dom Cabral. É preciso garantir alternativas de mobilidade para a cidade.
Aos poucos, porém, um projeto do governo de São Paulo dá sinais de que o quadro – e o cartão-postal – pode finalmente mudar. Está em curso desde 2007 o Expansão SP, programa que prevê o aporte de 20 bilhões de reais em soluções de transporte público metropolitano. Trata-se do maior investimento no setor já feito no país – e uma das vitrines reluzentes do governador José Serra, virtual candidato a disputar a próxima eleição presidencial. O grande legado do projeto promete ser a quadruplicação da rede de transporte ferroviário com qualidade de metrô na Grande São Paulo, passando dos atuais 61 quilômetros para 240 no ano que vem. Numa segunda etapa, o plano é chegar a 390 quilômetros em 2014, quando o número de passageiros atendidos diariamente dobraria dos 5 milhões de hoje para 10 milhões. Vamos ter, finalmente, a sensação de contar com uma rede de transporte urbano, afirma José Luiz Portella, secretário dos Transportes Metropolitanos do governo do estado.
Como é possível tamanho salto numa rede que, desde sua criação, há 41 anos, cresce a uma velocidade de apenas 1,5 quilômetro por ano? Para que o plano do governo se materialize, essa média terá de crescer para quase 50 novos quilômetros até 2014. É virtualmente impossível, em qualquer lugar do mundo, cavar tantos túneis em tão pouco tempo. Por isso, a chave do Expansão SP é a integração de duas redes que, por mais absurdo que possa parecer, pouco se conversam: o metrô e os trens de superfície. Herdeira de uma malha ferroviária antiquada, construída nos tempos áureos do ciclo do café, a rede de trens metropolitanos, a CPTM, tem mais de quatro vezes o tamanho da malha do metrô – são 261 quilômetros de trem e apenas 61 de metrô. Porém, na maior parte dela, o serviço é péssimo: os vagões são antigos, andam devagar e demoram para passar. Além disso, o usuário precisa comprar um bilhete para andar de trem e outro para pegar o metrô. A ideia é melhorar os sistemas da CPTM que operam os trens de superfície para que a rede possa funcionar com padrão semelhante ao do metrô. O intervalo médio entre os trens, hoje de 7 minutos, deve cair para 4. Ainda mais importante é a integração das redes. O usuário poderá, com o mesmo bilhete, entrar numa estação de metrô, passar para a linha do trem, voltar ao metrô e assim por diante. Com isso, as possibilidades de rota se multiplicam.
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