O primeiro trem entre Pequim e Lhasa, a capital da região autônoma do Tibet, chegou hoje a seu destino após atravessar boa parte do país em dois dias de viagem, em uma lenta subida de cinco mil metros através de paisagens cinematográficas.
Várias jovens com roupas típicas tibetanas receberam os primeiros viajantes de Pequim seguindo a tradição de colocar um xale branco ao redor do pescoço dos recém chegados e convidando-os a jogar um punhado de terra para o alto três vezes.
Na primeira viagem ferroviária entre estas duas cidades, separadas por mais de quatro mil quilômetros, 870 passageiros puderam conhecer uma parte do inexplorado planalto tibetano.
O trem partiu da capital chinesa na noite de domingo, e suas primeiras paradas, durante o começo da viagem, foram Shijiazhuang, capital da província vizinha de Hebei, e mais tarde Xian, antiga capital do Império do Centro.
Ao amanhecer, a paisagem era formada pelos verdes campos da margem do Rio Amarelo, envoltos por uma camada de nevoeiro.
Mais tarde, o trem chegou à estação de Lanzhou, apelidada de cidade dourada.
Nessa estação e nas seguintes, centenas de moradores curiosos aguardavam, olhando com fisionomia inexpressiva a última maravilha da engenharia chinesa – a ferrovia é apresentada pela China como Caminho do Céu.
Dentro dos vagões, quase todos se sentiam orgulhosos de poder viajar neste histórico trem, e os chineses mostravam seu orgulho pátrio, avivado por semanas de propaganda na imprensa oficial.
Agora que conseguimos chegar ao Tibet, o próximo passo é construir um trem que vá até as nossas ilhas, através de pontes, comentou Feng, um dos viajantes.
Dezenas de estudantes tibetanos que estudam em Pequim também fizeram a viagem: alguns contentes com a abertura da ferrovia, mas outros nem tanto.
Demora mais que o avião, mas é muito mais barato. A partir de agora poderei visitar minha família mais vezes, comentou Lobsang, um estudante de economia que sorria constantemente.
Mas um de seus colegas não pensava assim: Não quero que pequineses venham para minha terra! Não gosto deles!, exclamou um passageiro, que reconheceu que o novo trem, o Qingzang, vai lhe trazer benefícios.
A viagem alcançou o ápice a partir da afastada província de Qinghai, tão montanhosa quanto seu vizinho Tibet.
Depois da capital da província de Qinghai, Xining, a paisagem adquiriu um aspecto quase lunar, de deserto marrom e montanhas no horizonte.
Esta província é chamada de Amdo pelos tibetanos no exílio, que a consideram uma parte do Grande Tibet ocupado pela China.
Durante décadas, Pequim usou esta região como gulag (sistema penal da antiga União Soviética composto por campos de concentração) para presos políticos e contra-revolucionários.
Ao chegar à pequena cidade de Golmud, onde as obras da ferrovia começaram há cinco anos, a paisagem voltou a mudar, dessa vez, para a típica do Teto do Mundo.
Muitas fotos da imprensa chinesa foram divulgadas nos últimos dias, mas as grandes pradarias, os rios vermelhos devido ao ferro e ao cobre e o céu azul intenso não deixam de impressionar os passageiros.
A Vista, que não pode ser admirada por quem viaja de avião, também permitiu comprovar a pobreza dos camponeses que vivem nesses lugares afastados, e a profusão de bandeiras chinesas, mais abundantes ali do que no resto do país.
Além disso, a cada mil metros, um soldado plantado no meio da pradaria vigiava a ferrovia, embora parecesse completamente indefeso. Obrigado por nos proteger, comentou sarcástico um dos passageiros.
Com exceção de poucas casas de famílias criadoras de gado, estes soldados, firmes e solitários, eram o único componente humano do planalto tibetano, povoado por rebanhos de bois e vacas, vigiados por cães das pradarias.
A partir de então, muitos passageiros começaram a sofrer com a altura: enjôos e fort
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