Avançaram as negociações com a América Latina Logística (ALL) para a compra do grupo Brasil Ferrovias. Pessoas envolvidas no processo indicam que a companhia de logística, única candidata que fez uma proposta pelo conjunto dos ativos colocados à venda, abriu vantagem sobre os demais interessados nas últimas semanas. No entanto, ainda não obteve direito de negociar com exclusividade, algo que batalha para obter logo.
O Asila, consórcio de empresas coreanas que fez oferta para comprar apenas a Novoeste Brasil, o corredor de bitola estreita, ainda tenta se manter na disputa.
Segundo o Valor apurou, a ALL ofereceu pouco mais de R$ 1 bilhão pela totalidade das ações da Brasil Ferrovias e da Novoeste, respectivamente, os corredores de bitola larga e estreita. O primeiro reúne as concessionárias Ferronorte e Ferroban e o segundo, a própria Novoeste.
A maior parte desse valor, entretanto, propôs pagar em ações da própria ALL. Essa característica é tida como uma das vantagens da proposta, porque assegura aos acionistas vendedores a oportunidade de, futuramente, compartilhar os ganhos com a recuperação das ferrovias vendidas. Como os dois corredores tem um alto endividamento e sérios problemas operacionais, a possibilidade de valorização futura pode ser grande, se o plano de recuperação for bem-sucedido.
Dentro desse desenho, ficariam como novos sócios da ALL o BNDES, a Previ (fundo de pensão do Banco do Brasil) e a Funcef (fundo da Caixa Econômica Federal). Para tanto, está sendo negociado um novo acordo de acionistas da ALL. O JP Morgan receberia sua parte em dinheiro.
No fim-de-semana prolongado, as reuniões foram intensas para se acertar os termos de um contrato de compra e venda e também do acordo de acionistas. Há uma expectativa de chegar a um formato final dos documentos até o fim desta semana. Depois disso, os textos teriam que ser aprovados pelos conselhos e comitês dos acionistas vendedores e da ALL. Só então seriam assinados, garantindo a exclusividade nas negociações.
Hoje, uma reunião do conselho de administração da ALL vai analisar os pontos já negociados, as questões em aberto e também os números do primeiro trimestre da Brasil Ferrovias.
Nesta semana, a ALL está realizando uma auditoria na Brasil Ferrovias. Há informações de que o resultado das concessionárias piorou neste início de ano, o que poderá levar a renegociações em torno do preço colocado na proposta. Quando o “data room” foi aberto, só havia números até o terceiro trimestre do ano passado.
Os dois corredores foram colocados à venda separadamente. Em 22 de março, foram entregues as propostas. A ALL fez oferta pelos dois blocos. A MRS Logística, que esperava-se que fosse disputar apenas a bitola larga, desistiu nos momentos finais.
Para o corredor de bitola estreita foram apresentadas três ofertas: de um consórcio de empresas coreanas batizado de Asila; da Ferrocarril Oriental, ferrovia boliviana controlada por capitais americanos; e de uma empresa chinesa dos setores siderúrgico e de manganês, a Jianscsu Zhongye.
Depois de algumas semanas, as conversas da consultoria Angra Partners, que assessora os vendedores, se polarizaram em torno de ALL e Asila, que fez a melhor proposta pela Novoeste.
No ano passado, a Brasil Ferrovias recebeu uma capitalização de mais de R$ 1 bilhão, feita por Previ, Funcef e BNDES. Isso elevou o banco a maior acionista individual do corredor de bitola larga, com quase metade do capital.
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