Valor Econômico – O projeto de um novo túnel submerso entre Santos e Guarujá começa a avançar. Nesta terça (6), a Santos Port Authority (SPA), responsável pela administração do porto de Santos, abrirá um chamamento público para receber estudos do empreendimento.
A primeira opção do governo federal é incluir a obra dentro da desestatização do Porto de Santos, como um investimento obrigatório do novo operador privado. Porém, há outras saídas para viabilizar a construção, diz o presidente da SPA, Fernando Biral.
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“A inclusão do túnel na desestatização dependerá da modelagem. Mas, mesmo se o ‘plano A’ falhar, seguiremos adiante. O túnel é a melhor opção para a ligação seca entre as cidades e é necessário para garantir as condições de navegação do canal. O porto receberá navios cada vez maiores, por isso é importante evitar o tráfego das balsas que ligam Santos e Guarujá”, afirma.
O “plano B” para viabilizar o túnel poderia ser uma Parceria Público Privada (PPP), mas as alternativas ainda terão que ser analisadas, segundo Biral.
A ligação rodoviária entre Santos e Guarujá é um projeto antigo, que voltou a ser alvo de debates acalorados em 2019, quando o governo de São Paulo anunciou a intenção de construir uma ponte entre as duas cidades. A obra seria feita pela Ecorodovias, em troca de uma prorrogação do seu contrato de concessão.
A proposta, porém, gerou forte oposição de empresas que atuam no porto e do governo federal. A avaliação é que a ponte poderá atrapalhar o trânsito e as manobras dos navios, cada vez maiores, no canal do porto. No lugar, a SPA propôs o túnel como alternativa.
Desde então, o governo paulista e a Ecorodovias reformularam o projeto da ponte para minimizar o risco de impacto no porto, mas a proposta ainda gera resistência e, até o momento, não avançou, embora continue nos planos do Estado. As controvérsias entre governos paulista e federal se mantêm.
Em meio aos embates, empresas contrárias à ponte criaram o movimento “Vou de Túnel”, que reúne terminais de contêineres, companhias de navegação, entre outros. O grupo tem como porta-voz o ex-presidente da SPA Casemiro Tércio Carvalho, que liderava a estatal quando a proposta da ponte veio à tona, em 2019.
Para o ex-executivo, o ideal seria construir o túnel por meio de uma PPP ou subconcessão, desvinculando o empreendimento do calendário da privatização. O governo federal planeja fazer o leilão de desestatização da SPA em 2022, mas a projeção é vista com ceticismo no setor.
“Caso o cronograma [de desestatização] escorregue para 2023, perderíamos três anos de avanço no projeto do túnel”, diz Carvalho.
A estimativa preliminar da SPA aponta um custo de R$ 3 bilhões para a construção do túnel – mas o valor será atualizado com base nos novos estudos, destaca Biral.
O objetivo da autoridade portuária é que a ligação seja um projeto de mobilidade urbana, para aliviar o tráfego da balsa Santos-Guarujá. A nova passagem deverá incluir uma extensão do VLT (Veículo leve sobre Trilhos), além da travessia de pedestres e ciclistas. Há possibilidade de cobrança de pedágio, com um valor equivalente à atual passagem da balsa.
Caminhões também poderão passar pelo túnel, mas não são o foco do projeto, explica Bruno Stupello, diretor de Desenvolvimento de Negócios e Regulação da SPA. O fluxo de carga entre as margens do porto é baixo, e a tendência é que seja cada vez menor, devido às mudanças no planejamento do porto, diz ele.
Em relação à ponte, o executivo diz que a SPA não trabalha com essa possibilidade, mas avalia que os projetos não se inviabilizam, por terem objetivos diferentes. “A análise de quanto a ponte captaria de tráfego do túnel ainda terá que ser alvo dos estudos. Em uma primeira visão, acredito que seja pouco”, afirma.
O governo paulista compartilha da percepção de que os projetos não se excluem, afirma o secretário paulista de Logística e Transportes, João Octaviano Machado Neto. Ele defende a construção da ponte e diz que não há risco de o empreendimento prejudicar o tráfego dos navios.
“Nas simulações que fizemos, o projeto inicial não traria problema algum, mas fizemos as alterações apontadas pelo governo federal e ampliamos o vão central para 750 metros. Estamos no aguardo da avaliação”, disse.
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