Estadão – Seja no noticiário, na caixa de e-mails ou até ao conferir as oportunidades de investimentos, é provável que as letrinhas ESG tenham aparecido na sua tela. Environmental, Social and Governance nada mais é que a preocupação com questões ambientais, sociais e de governança no meio corporativo. A Climate Bonds Initiative (CBI) é responsável por analisar a emissão de títulos verdes e orientar o investidor que busca ativos comprometidos com os três pilares.
A CBI mobiliza US$ 100 trilhões do mercado de títulos para soluções climáticas. Aqui no Brasil, a organização iniciou os trabalhos em 2014, mas em 2016 passou a atuar diretamente com a gerência local. Hoje, Leisa Sousa é Head da América Latina e afirma que a presença do selo verde faz diferença na hora de escolher as aplicações financeiras.
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“Título verde é integridade climática”, afirma. Segundo Sousa, apesar do foco para tentativa de controle de degradação ambiental ser, em questão de prioridade, por meio político, o mercado financeiro e osetor privado podem atuar de forma significativa. “Quando se fala em risco climático, falamos em risco de investimento”, diz.
Ela já atuou como consultora em mudanças climáticas no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e Carbon Trust. Especialista em Energia e Transição Ambiental, ela é responsável pelo desenvolvimento do mercado de títulos verdes na América Latina, além de coordenar o Programa de Agricultura da CBI no Brasil.
Em junho do ano passado, a CBI iniciou o Plano de Investimentos Verdes para a Agricultura, que identifica R$ 692 bilhões em oportunidades de investimento para Agricultura até 2030. O objetivo é dar mais visibilidade aos processos de emissão de títulos.
E-Investidor – Como é a atuação da Climate Bonds Initiative no Brasil e no âmbito global?
Leisa Souza – A Climate Bonds Initiative (CBI) é uma organização global sem fins lucrativos, sediada em Londres. A nossa principal missão é mobilizar os mercados de capitais em relação a fazer essa transição para projetos de ativos que contribuam com a mitigação de desenvolvimento de sustentabilidade.
Nossa preocupação é como começar a mobilizar esse recurso para soluções e para financiamento climático. Trabalhamos muito com a definição do que é o verde. Somos a primeira organização a fazer uma taxonomia verde e também a desenvolver critérios tutoriais específicos para guiar investidores em relação a onde fazer suas aplicações.
Com a definição da taxonomia e dos critérios setoriais, conseguimos certificar e proporcionar que o investidor saiba para onde o dinheiro está indo.
E-Investidor – O que é necessário para emitir um título verde e como fazer?
Leisa Souza – Se uma companhia tem interesse em emitir um título verde, é preciso olhar os projetos de ativos. Se o portfólio é de energia renovável, como solar e eólica, há critérios específicos. Se a empresa informar que o ativo é de térmica movida a carvão, não vai ser elegível.
É necessário começar a olhar e fazer essa sinalização em relação a construção do portfólio. Se é composto por projetos renováveis, é preciso identificar as métricas específicas. Se for energia solar, não pode ter um backup térmico de mais de 15%.
Temos duas formas de rotular, a certificação da Climate Bonds e a opinião de empresas de segunda parte, que têm as próprias métricas para formulação de análise para alocação de recursos. Uma vez que a empresa faz isso, pode emitir o título verde, mas ainda é necessário fazer relatórios anuais até a maturidade do título.
E-Investidor – Qual peso o investidor tem dado para o reconhecimento sustentável de uma empresa?
Leisa Souza – Especialmente de uns três anos para cá, somado a um crescimento mais acelerado ano passado, foi possível ver a explosão em relação ao ESG. É um mercado em expansão, que abrange muito o verde. Hoje, você consegue ver um portfólio e apontar o que é verde a partir de uma rotulagem da operação financeira e saber onde o investimento do recurso será direcionado.
A CBI participou, junto ao BID e o BID Invest, do lançamento da Plataforma de Transparência de Títulos Verdes (GBTP, na sigla em inglês). Na plataforma, é possível o investidor checar informações como valores e maturidade dos títulos da América Latina.
E-Investidor – Existem setores mais desafiadores, que enfrentam maiores barreiras para emissão dos títulos?
Leisa Souza – Aqui no Brasil, seguimos uma tendência internacional. Temos cerca de 46% de títulos indo para as energias renováveis. Especialmente eólica e solar. O segundo maior setor aqui, em número de emissão, é o de uso da terra, especialmente as papeleiras, como Suzano, Klabin e Irani. Vimos um movimento um pouco maior do setor de transporte e saneamento. Desde o ano passado, há muitas iniciativas na área de bioenergia recebendo o rótulo verde.
Um dos maiores desafios ainda é a agricultura. Até ano passado não tinham critérios muito claros em relação ao que se enquadra como verde, por isso iniciamos o Plano de Investimentos Verdes para a Agricultura.
E-Investidor – Em que posição está o Brasil em relação às iniciativas verdes no mundo?
Leisa Souza – Esse movimento de emissão dos títulos verdes no Brasil já vem acontecendo aos poucos porque o mercado financeiro e o setor privado recebem influência das medidas internacionais, entretanto, nacionalmente, também é preciso tomar decisões políticas. Para o desenvolvimento de iniciativas verdes, é necessário investir em adaptação e resiliência. Apesar de o Brasil seguir a linha do que é feito no exterior, o setor de energia é uma prova de que não nos adaptamos completamente. Ainda existe uma dependência da precipitação e da estiagem que afetam a produção agrícola. É preciso que o mercado tenha foco na adaptação, o que significa, olhar para os caminhos sustentáveis e eficientes a longo prazo.
Fonte: https://einvestidor.estadao.com.br/investimentos/risco-climatico-investimentos-climate-bonds/
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