Com novas colheitas recorde de soja e milho e o mais numeroso rebanho bovino do país, o Centro-Oeste do país alcançará, em 2020, o maior valor bruto da produção (VBP) agropecuária de sua história e confirmará a condição de locomotiva do campo brasileiro.
Dados do Ministério da Agricultura compilados pelo Valor mostram que, puxado pelos grãos, o VBP das lavouras de Mato Grosso, Goiás, Mato Grosso do Sul e do Distrito Federal (a conta inclui 21 produtos) deverá somar R$ 168,4 bilhões neste ano, 17,5% mais que em 2019. Em relação ao resultado de 2011, o aumento é de 92,5%, ou R$ 80,9 bilhões.
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Esse aumento representa 66% da alta do VBP das lavouras de todas as regiões do país na última década. Segundo as projeções do ministério, o VBP agrícola nacional atingirá R$ 480 bilhões em 2020, com altas de 11,6% ante o ano passado e de 34,3% (ou R$ 122,6 bilhões) na comparação com 2011 – os valores estão deflacionados pelo IGP-DI da Fundação Getulio Vargas (FAGV) de junho.
Soja e milho lideram o avanço do VBP agrícola do Centro-Oeste. A colheita de soja na região somou 58,9 milhões de toneladas na safra 2019/20, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), 12% a mais que em 2018/19 e volume 73,7% superior ao do ciclo 2010/11. Na última década, a região respondeu por 54,8% do incremento da colheita brasileira da oleaginosa, que em 2019/20 atingiu 120,9 milhões de toneladas.
A seu favor na balança, o Centro-Oeste conta com propriedades produtoras de grãos em média maiores que as das demais regiões. Seus donos sabem que têm de investir em tecnologia desde que a Embrapa começou a desenvolver sementes adaptadas ao Cerrado, na década de 1970, e hoje contam com uma multiplicação de ferramentas digitais para melhor aproveitar a possibilidade de cultivar duas safras com produtividades elevadas.
Daí porque a colheita de milho também baterá recorde em 2019/20. Semeado sobretudo na safra de inverno, depois de colhida a soja de verão, o cereal deverá render 55,6 milhões de toneladas em 2019/20, com crescimento de 5,3% em relação a 2018/19 e de 221,4% ante 2010/11. Assim, o Centro-Oeste responderá por 88,7% do incremento da colheita total brasileira na última década.
Embora todas as unidades federativas do Centro-Oeste apresentem avanços, Mato Grosso é o grande destaque. No maior Estado agropecuário do Brasil, o VBP das lavouras, encabeçado por soja e milho, deverá alcançar R$ 102,3 bilhões em 2020, 110,5% mais que em 2011.
O cruzamento de dados do ministério também mostra que, enquanto a participação do Centro-Oeste no VBP agrícola sobe de 24,5%, em 2011, para 35,1%, em 2020, caem principalmente as fatias do Sudeste e do Sul. No Sudeste, a queda nos últimos dez anos é de 32,8% para 24,9%, enquanto no Sul, origem de boa parte dos agricultores do Brasil central, é de 26% para 20,7%.
Com a demanda internacional aquecida e as compras domésticas firmes e com perspectivas positivas – sobretudo por parte de frigoríficos de aves e suínos -, a expansão das lavouras de grãos continua a preocupar os ambientalistas, uma vez que o Cerrado já sofreu grande desmatamento e a tendência pode se aprofundar, por mais que grande parte do avanço das lavouras seja sobre áreas de pastagens degradadas.
Em meio a um processo de intensificação, e também estimulada por novas tecnologias, as cinco principais cadeias da pecuária deverão alcançar um valor bruto da produção de R$ 56,6 bilhões no Centro-Oeste este ano, aumentos de 7,2% sobre 2019 e de 32,2% (ou R$ 14,1 bilhões) na última década. Nessa frente, a região respondeu por 26% da alta do VBP brasileiro desde 2011.
Os bovinos puxam a fila do valor da produção da pecuária. Nessa cadeia, o VBP deverá chegar a R$ 38,7 bilhões no Centro-Oeste em 2020, 42,8% mais que em 2011. São mais R$ 11,6 bilhões em uma década, ou 36,1% da alta total registrada pela bovinocultura no país. Mato Grosso também é o principal Estado da região quando se trata de pecuária.
Na pecuária, quem mais perdeu enquanto a participação do Centro-Oeste passou de 23,3% para 23,9% foram Sul e Nordeste. No Sul, a fatia do total deverá ficar em 30,4% em 2020, ante 33,5% em 2011, e no Nordeste a queda é de 7,3% para 6,5%.
Para especialistas, como tem escala maior, empresários rurais cada vez melhor preparados, tecnologia à disposição e novas fontes de financiamento no mercado, o Centro-Oeste deverá ampliar sua liderança no campo brasileiro nos próximos anos.
O Centro-Oeste é o Maracanã onde será jogada a partida a final da copa do mundo dos alimentos, afirma Roberto Rodrigues, coordenador do FGV Agro, o Centro de Estudos em Agronegócios da FGV – e, claro, o ex-ministro da Agricultura aposta todas as fichas na vitória do Brasil.
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