Valor Econômico – O Brasil é o nono maior produtor de aço do mundo, com 14 companhias fabricantes controladas por dez grupos familiares e industriais. O parque fabril do país tem capacidade instalada para fazer 51 milhões de toneladas de aço bruto por ano em 31 usinas espalhadas por dez Estados – Pará, Maranhão, Ceará, Pernambuco, Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul.
A produção, no ano passado, somou 36,1 milhões de toneladas: dois terços desse volume foram fabricados por companhias controladas por grupos de origem estrangeira. Essa concentração evoluiu a partir do início dos anos 2000, alguns anos após a privatização do setor na década de 1990.
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Além de fusões e aquisições de ativos, a entrada de novos grupos acelerou esse movimento. Por exemplo, Thyssenkrupp, Ternium, Sinobras, AVB e Simec. De 2017 para cá foram cinco transações de compra de ativos – quatro por estrangeiros e uma por brasileiro (Gerdau).
Com um mercado que vive a reboque dos altos e baixos da economia brasileira, o consumo doméstico oscila, há décadas, entre 100 kg e 120 kg por habitante ao ano de produtos siderúrgicos. Por isso, é um exportador relevante de aço, principalmente de produtos semiacabados (placas e tarugos), que têm menor valor agregado. O setor faturou R$ 208 bilhões em 2021 e está investindo R$ 52,5 bilhões no quinquênio 2022-2026.
Confira abaixo os 10 maiores grupos do setor no Brasil.
- ArcelorMittal – Família Mittal
O grupo indo-europeu, formado em 2006 com a fusão de Mittal e Arcelor, é o segundo maior do mundo, em volume de produção – perdeu a posição de líder há dois anos para a chinesa Baowu. O controle, de
cerca de 40% das ações, pertence à família do empresário de origem indiana Lakshmi N. Mittal, que administra os negócios junto com seu filho Aditya, que se tornou CEO em fevereiro de 2021. O fundador tornou-se presidente executivo do conselho de administração.
O grupo é o maior produtor de aço no Brasil e vem crescendo. As operações brasileiras produzem aços planos e longos e atua também na distribuição, centro de serviços e fabricação de diversos produtos. No ano passado, fez 11,2 milhões de toneladas de aço bruto em suas usinas
siderúrgicas do Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. Conta ainda com uma empresa de mineração de ferro no país.
No fim de julho, a ArcelorMittal informou a compra de 100% do capital
da Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP), uma produtora de placas até então controlada por Vale, Dongkuk e Posco localizada no complexo industrial e portuário do Pecém, no Ceará, na região metropolitana de Fortaleza. Com isso, pôs os pés na região Nordeste e adiciona 3 milhões de toneladas de capacidade ao grupo no país.
Em um negócio separado da ArcelorMittal, a família Mittal é dona também de 41% do controle da Aperam, siderúrgica especializada em aço inox e elétrico, aços especiais e ligas. Tem operações na Bélgica,
França e Brasil. A unidade brasileira, que fica em Timóteo (MG), tem capacidade de 900 mil toneladas de aço bruto por ano. A empresa é a única produtora de aço inox da América do Sul.
- Gerdau – Família Gerdau Johannpeter
Criado em 1901 em Porto Alegre, a partir de uma fábrica de pregos, por João Gerdau, o grupo brasileiro é o segundo maior produtor brasileiro de aço. É controlado por quatro ramos familiares (irmãos) – Germano, Klaus, Jorge e Frederico, que levam o sobrenome Gerdau Johannpeter. O comando está na quinta geração.
O grupo é especializado em aços longos, fabricados a partir de sucata de ferro e aço, mas também produz aço plano na siderúrgica de Ouro Branco (antiga Açominas), em Minas Gerais, e aços especiais em três usinas – uma no Rio Grande do Sul e duas no Estado de São Paulo. As usinas de aços longos estão no Ceará, Pernambuco, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul. A produção total no país, em 2021, somou 7 milhões de toneladas de aço bruto.
Fora do Brasil, a Gerdau está presente em países da América do Sul, América Central, no México, Estados Unidos e Canadá, fabricando aços longos e especiais.
- CSN – Família Steinbruch
Mais antiga siderúrgica de aço plano do país, criada em 1941 pelo governo de Getúlio Vargas, em Volta Redonda (RJ), com início de operação em 1946, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) é controlada pela família do empresário Benjamin Steinbruch desde 1993, quando foi privatizada.
É uma grande produtora de aços laminados planos e há alguns anos passou a fazer também aço longo no mesmo site (em menor volume). No ano passado, a empresa produziu 4,26 milhões de toneladas de aço bruto na usina de Volta Redonda. A principal concorrente no país é a Usiminas. A CSN é ainda dona de mineradora de ferro (listada na B3), de cimenteira (segunda do país em vendas) e de geradoras de energia e tem participações relevantes em ferrovias (MRS e Transnordestina).
No exterior, a CSN opera uma laminação de aço plano em Portugal e uma usina de produção de aço longo (perfis) na Alemanha.
- Ternium Brasil – Família Rocca/Grupo Techint
Produtora especializada em placas de aço, a Ternium Brasil é a antiga Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), montada pelo grupo alemão Thyssenkrupp e pela Vale na primeira década dos anos 2000. Alguns anos depois de entrar em operação, a Thyssen decidiu se desfazer do ativo e o vendeu para a Ternium, braço de aços planos do grupo ítalo-argentino Techint, comandado pelo empresário Paolo Rocca. O negócio ocorreu em 2017 por US$ 1,79 bilhão.
Localizada no município do Rio de Janeiro, a siderúrgica tem capacidade de fabricar 5 milhões de toneladas por ano e dispõe de terminal portuário próprio. Em 2021, a empresa produziu 4,53 milhões de toneladas de aço bruto (placas), a maior parte destinada à exportação, principalmente para suprir laminadoras da Ternium no México e EUA.
- Usiminas – Família Rocca/Ternium e Nippon Steel
Idealizada no fim dos anos de 1950 e com início de operação em 1962, a Usiminas se tornou uma das principais produtoras de aços planos do país, transformando-se numa grande fornecedora da indústria automotiva. Na sua origem, teve capital estatal e uma participação acionária, além de apoio tecnológico do grupo japonês Nippon Steel. A usina está localizada em Ipatinga, no Vale do Aço mineiro. A empresa foi privatizada em 1991 e, sob gestão privada, em 1993 adquiriu em leilão a antiga Cosipa, em Cubatão (SP).
No ano passado, produziu 3,2 milhões de toneladas de aço bruto na unidade mineira. Em Cubatão, há vários anos opera apenas as unidades de laminação de produtos, com placas adquiridas de terceiros, desde o fechamento de altos-fornos. A empresa é dona de uma empresa de mineração de ferro.
A Usiminas é controlada, desde novembro de 2011, em gestão compartilhada, por Ternium, braço de aços planos e longos do grupo Techint (família Rocca), e pelo grupo japonês Nippon Steel.
- Simec – Família Vigil
Com quase sete anos de operações no Brasil, o grupo mexicano Simec se tornou em 2018 o terceiro maior fabricante de aços longos no Brasil – vergalhões, fio-máquina, barras e perfis. Controlado pela família Vigil, de Guadalajara, Estado de Jalisco, o Simec tem usinas em Pindamonhangaba (SP), que está com projeto de duplicação da capacidade, Cariacica (ES) e Itaúna (MG).
A usina paulista foi montada do zero (greenfield) e as outras duas adquiridas no processo de aprovação da compra da Votorantim Siderurgia, em 2017. O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) exigiu a venda dos dois ativos. A capacidade de produção foi a 1,1 milhão de toneladas.
Em 2021, a Simec produziu 850 mil toneladas de aço bruto, conforme dados do Instituto Aço Brasil. O grupo tem uma grande atuação no México; e nos EUA é um dos maiores produtores de aços especiais.
- Vallourec – Grupo francês Vallourec
Fundada em 1952 em Belo Horizonte pelo então grupo alemão Mannesmann, a siderúrgica Vallourec, especializada na fabricação de tubos de aço sem costura, pertence ao grupo francês Vallourec Tubes, que assumiu 100% do capital em 2005. No país, está sob a gestão da holding Vallourec Tubos do Brasil, que controla outras empresas, como uma mineradora de ferro e uma da área florestal.
Em 2021, na usina de Jeceaba (a 100 km da capital mineira) a Vallourec produziu 710 mil toneladas de aço bruto, material transformado em tubos sem costura para aplicações em diversos setores: energético (óleo e gás e geração de energia), máquinas e equipamentos industriais, automotivo, infraestrutura construção.
A usina do Barreiro, que deu origem à empresa no país, paralisou a atividade siderúrgica em 2016, passando a atuar na laminação e elaboração de produtos tubulares diversos.
- Sinobras – Família Vilmar Ferreira
A Sinobras – Siderúrgica Norte Brasil S.A. – é controlada pelo grupo Aço Cearense. Baseado em Fortaleza, foi fundado pelo empresário Vilmar Ferreira. A siderúrgica começou a operar em 2008, com usina em Marabá (PA).
A Sinobras dispõe de capacidade para produzir 380 mil toneladas de aço tipo longo (fio-máquina, vergalhão e outros). A empresa tem um projeto para atingir 880 mil toneladas ao ano de produtos laminados. Para isso, prevê a instalação de um segundo laminador na usina apto a fazer 500 mil toneladas anuais de aço laminado. A empresa é acionista com 1% de participação na Hidrelétrica de Belo Monte.
No ano passado, a siderúrgica produziu 370 mil toneladas de aço bruto na usina de Marabá, utilizando como matéria-prima sucata de ferro e aço e ferro-gusa líquido. A empresa dispõe de redutor bioenergético (carvão vegetal) próprio para fazer ferro-gusa.
- Aço Verde do Brasil – Família Nascimento
Embora fundada em meados da década de 1980, com outro nome e como produtora de gusa, a Aço Verde do Brasil (AVB) iniciou a produção siderúrgica, de fato, no fim de 2015, em Açailândia (MA), iniciando com a fabricação de tarugos. Em 2018, deu partida à verticalização, ao instalar um alto-forno de gusa, de 360 mil toneladas de capacidade por ano, aciaria e unidade de laminação de produtos acabados (fio-máquina e vergalhões), de 600 mil toneladas, agregando valor aos tarugos. A empresa comercializa também ferro-gusa, gases do ar e energia.
Em 2021, produziu 345 mil toneladas de aço bruto, conforme o Instituto Aço Brasil. Nesse mesmo ano, em maio, colocou em operação o segundo alto-forno, de capacidade similar ao primeiro. Controlada pelo grupo mineiro Ferroeste, da família Nascimento, a AVB recebeu em 2021 o selo de primeira siderúrgica no mundo com carbono neutro – produz aço sem utilizar combustíveis fósseis. A empresa usa energias renováveis no lugar de coque e reutiliza coprodutos das operações.
- Villares Metals – Grupo Bohler-Uddeholm
Fundada em 1944 como um braço da antiga Aços Villares, a siderúrgica especializada em aços e ligas especiais está localizada em Sumaré, interior de São Paulo. Faz aços-ferramenta – sendo a principal fabricante da América Latina –, aços rápidos, aços-válvula, aços inoxidáveis, além de ligas e peças forjada
Opera à base de sucata e em 2021 produziu 134 mil toneladas de aço grupo. A Villares Metals é, desde 2004, controlada pelo grupo austríaco Bohler-Uddeholm, de Viena, um dos maiores produtores de aço-ferramenta do mundo.
Excelente matéria! parabéns aos envolvidos, nos da uma visão geral e rápida sobre o setor no Brasil.