Valor Econômico – Há quatro anos, as três maiores e mais tradicionais operadoras de rodovias do país – CCR, Ecorodovias e Arteris – se preparavam para um ciclo de renovação do portfólio, diante do fim próximo de diversos de seus contratos. Desde então, cada grupo seguiu um caminho: CCR teve uma forte expansão, com mais participação em outros setores; Ecorodovias também obteve crescimento relevante, com foco em estradas; já a Arteris deixou de participar de leilões e foi colocada à venda por seus acionistas.
CCR e Ecorodovias praticamente dominaram as licitações de rodovias federais dos últimos quatro anos. Hoje, as duas companhias desaceleraram o ritmo de expansão, mas ainda veem espaço para novos projetos em 2022.
No caso da CCR, a ausência na última rodada de concessões de aeroportos, em agosto, surpreendeu o mercado, assim como a renúncia do presidente, Marco Cauduro, na mesma semana.
O grupo, porém, diz que seu processo de renovação de portfólio ainda não está concluído, que está longe de atingir a meta de retorno aos acionistas e que, provavelmente, disputará a licitação do Lote Noroeste Paulista, que o governo paulista quer fazer em 15 de setembro, afirma Eduardo Camargo, presidente da divisão de Rodovias.
“A decisão de não participar [do leilão de aeroportos] foi pelo entendimento de que há outros projetos com uma relação risco-retorno mais adequada, mas não estamos freando o ímpeto de crescimento”, disse o executivo.
A Ecorodovias também diz que há disposição para crescer. Porém, destaca que será seletiva e dará prioridade a concessões maduras, com geração de caixa desde o início e sinergias com operações atuais.
Desde 2019, cinco dos seis leilões rodoviários do governo federal foram vencidos por CCR ou Ecorodovias. Ao todo, foram contratados ao menos R$ 39 bilhões de investimentos pelos grupos (considerando valores previstos nos estudos, sem atualização): R$ 21 bilhões da Ecorodovias e R$ 18 bilhões da CCR. Esta última tem ainda R$ 6 bilhões em projetos de aeroportos e mobilidade urbana.
Para além dos leilões, as duas empresas também firmaram acordos com o governo paulista, nos quais resolveram passivos bilionários, prorrogaram concessões e incorporaram novas obras.
Já a Arteris ficou de fora de todo esse processo. Em 2020, o grupo viu sua concessão da Centrovias chegar ao fim, mas não participou da nova licitação do ativo – que passou a integrar o corredor Piracicaba-Panorama, arrematado pelo Pátria. A empresa tampouco disputou a BR-101 em Santa Catarina, que teria forte sinergia com uma de suas concessões.
Em meio à estagnação, seus acionistas controladores – a canadense Brookfield e a espanhola Abertis – colocaram a companhia à venda recentemente.
Arteris diz que “examina cada oportunidade de novos projetos”, mas ressalta que possui “questões em aberto sendo equacionadas” nos contratos atuais e que os investimentos no Brasil competem com outros países e com outros setores, como energia e saneamento. Quanto à venda, diz que “segue o cumprimento de seu planejamento estratégico” e, até o momento, não há uma decisão.
A CCR também vive mudanças societárias relevantes. A Andrade Gutierrez vendeu sua participação à Votorantim e à Itaúsa, que passarão a dividir o bloco de controle com a Soares Penido e com Mover (Camargo Corrêa). A operação está prestes a ser concluída.
Para Eduardo Camargo, a percepção é que o planejamento estratégico não mudará no curto prazo, independentemente das mudanças. “Os acionistas que estão chegando têm uma visão de longo prazo. A expectativa é que não haverá grandes alterações.”
Neste ano, a CCR estuda, além do Lote Noroeste Paulista, leilões federais que poderão sair: a BR-381, em Minas Gerais, e um ou dois lotes da rodovias do Paraná.
Ele destaca que ainda há algumas concessões importantes que vencem em um prazo curto, a ViaOeste (em 2024) e a SPVias (2029). “São concessões importantes e, da mesma forma que foi com a Dutra, são ativos que temos interesse em seguir operando. Então não está concluída a renovação de portfólio”, diz ele.
A CCR encerrou o segundo trimestre deste ano com um índice de alavancagem (medido pela relação entre dívida líquida e Ebitda ajustado) de 1,8 vez, bem abaixo do patamar de 3,5 vezes, considerado um limite para a empresa. Já a Ecorodovias registrou no mesmo período um índice mais elevado, de 4,1 vezes.
A empresa, controlada pelo grupo italiano Gavio, tem sinalizado cautela na expansão, o que ficou claro no último mês, com a decisão de ficar fora do leilão do Lote Triângulo Mineiro, para a surpresa do mercado. A avaliação do grupo é que o prazo médio de seu portfólio, hoje de 22 anos, avançou bastante, a partir da conquista de cinco concessões nos últimos cinco anos.
Ao mesmo tempo, a Ecorodovias tem indicado como possíveis alvos o Lote Noroeste Paulista (que prevê cobrança de pedágio deste o início), BR-381 e rodovias do Paraná.
Hoje, mesmo com o avanço do setor de concessões como um todo, CCR, Ecorodovias e Arteris ainda concentram cerca de 40%, das estradas concessionadas do país.
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