Valor Econômico – Mesmo com a queda dos preços dos insumos que mais “pesam” no bolso dos produtores agrícolas desde meados do ano, a exemplo dos fertilizantes, os custos de produção desta safra 2022/23, que está em fase de semeadura no país, superam com folga os do ciclo passado. Uma consequência direta é o aperto de margens no campo, o que leva os produtores de grãos a olharem com mais atenção para o futuro.
Em Mato Grosso, Estado que lidera a produção agrícola brasileira, cultivar soja está 67% mais caro na temporada atual do que em 2021/22. O custeio – conta que considera apenas os gastos diretos da produção no campo – da oleaginosa está exigindo um desembolso de R$ 4,9 mil por hectare, de acordo com o cálculo mais recente do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea). (ver infográfico)
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Além dos adubos, sementes e defensivos também ficaram mais caros na comparação com o ciclo 2021/22
O custo produtivo total do cultivo de soja, que inclui gastos financeiros e administrativos, alcança R$ 7,6 mil por hectare e supera em 47% o da temporada anterior. No caso do milho, o custo total subiu 30%, para R$ 5,6 mil. Já o investimento total para produzir algodão chega a R$ 20 mil por hectare, com alta de 26%.
“No ano passado, os produtores [de grãos em geral] conseguiram comercializar grande parte de suas colheitas antecipadamente – ou seja, antes da alta dos insumos e ao mesmo tempo que os preços dos grãos estavam subindo. Eles conseguiram margens melhores”, afirma Cleiton Gauer, superintendente do Imea. “Isso não é a realidade desta safra”.
Atraso nas compras
De acordo com Gauer, as compras de insumos demoraram mais a acontecer neste ano, e esses produtos estão mais caros do quem em 2021. Os fertilizantes, que representam perto da metade do custeio em soja, milho e algodão, foram os que mais subiram na comparação com o ciclo 2021/22. Apenas em soja, o gasto com esses nutrientes dobrou.
Já em milho e algodão, por sua vez, a alta dos adubos é similar à de operações mecanizadas e serviços de terceiros. “Operações mecanizadas tiveram forte influência da alta do diesel e dos lubrificantes”, diz Gauer. O aumento dos fertilizantes supera o das sementes, insumo fundamental para o plantio, e também o dos defensivos, devido ao cenário geopolítico que pressiona os preços internacionais de nitrogenados, potássicos e fosfatados usados nas fórmulas.
Gauer lembra que as cotações das commodities não acompanharam o movimento de alta dos insumos, e que desse modo é inevitável o aperto nas margens. Ademais, conta, o Imea deverá divulgar em novembro um retrato do comportamento do produtor diante da busca por financiamentos para custear a safra 2022/23.
Cálculos feitos em maio pelo Rabobank indicaram margem sobre os custos operacionais de 56% para a soja e 55% para o milho. Em 2021/22, o banco estima que, na soja, a margem sobre os custos operacionais foi de 64% e, no milho, de 56%. No custo operacional, o Rabobank considera basicamente os gastos com adubos, sementes e defensivos – os mesmos fatores do custeio fornecidos pelo Imea. Dados mais atuais serão apresentados pelo banco no início do mês que vem. O Imea, por ora, não mensura os desdobramentos do atual cenário para os investimentos do próximo cultivo agrícola.
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