O bilhete único – forma de integração tarifária em que o passageiro pega duas ou mais conduções e paga uma única passagem, dentro de um período específico – demorou a chegar ao Rio. O modelo intermunicipal (B.U.) surgiu em fevereiro de 2010 e o municipal (Bilhete Único Carioca), em novembro daquele mesmo ano – na capital paulista estava implantado desde 2004, mas, antes disso, já funcionava com sucesso em outras cidades do país.
É inegável que, apesar do atraso, eles representaram um ganho para os trabalhadores, especialmente aqueles que dependem de linhas intermunicipais, em que as tarifas são bem mais altas do que as da capital. Não se trata apenas de uma questão de transporte. Na hora de reivindicar uma vaga de emprego, moradores da Baixada Fluminense podem ficar em desvantagem em relação aos da capital, mesmo os de áreas mais distantes, à medida que custos com passagens se tornam maiores.
Mas a questão é que os bilhetes, tanto do estado quanto do município, foram implantados de forma capenga. Ao ser lançado, o Bilhete Único Carioca só dava direito a ônibus convencionais e micro-ônibus, excluindo coletivos com ar-condicionado – exemplo do poder que as empresas sempre exerceram no setor. Já o cartão intermunicipal ficou mais restrito após a crise financeira do Rio.
POD NOS TRILHOS
- Investimentos, projetos e desafios da CCR na mobilidade urbana
- O projeto de renovação de 560 km de vias da MRS
- Da expansão da Malha Norte às obras na Malha Paulista: os projetos da Rumo no setor ferroviário
- TIC Trens: o sonho começa a virar realidade
- SP nos Trilhos: os projetos ferroviários na carteira do estado
O problema maior é que os bilhetes carioca e intermunicipal não se comunicam. Se um passageiro pegar dois ônibus municipais ou um ônibus e o VLT para ir ao trabalho, pagará só uma passagem. Mas, se optar por ônibus e metrô, não terá o mesmo benefício. Ainda que as linhas metroviárias fiquem dentro da cidade, os sistemas tarifários não são integrados.
Isso cria distorções. Um morador da Rocinha que queira ir à Barra, por exemplo, pode pegar dois ônibus e pagar apenas uma tarifa. Se for de metrô, a viagem poderá ficar mais cara se precisar de outra condução para complementar o trajeto. Entende-se por que a bilionária Linha 4 está subutilizada.
O início de um novo ano é momento oportuno para se repensar a questão da integração tarifária. E ela deve envolver governador, prefeito, deputados, vereadores e as diversas concessionárias. O Rio precisa ter um bilhete integrado para todos os transportes. Outras cidades já fazem isso.
Durante décadas, empresários de ônibus – que dominam cerca de 70% do mercado de transporte do Rio – pagaram propina a agentes públicos para defender seus interesses, em detrimento dos cidadãos, como mostram as investigações da Lava-Jato. Conseguiram aumentos de tarifa, isenção tributária, detonaram CPIs. Está mais do que na hora de poder público e concessionárias olharem pelos passageiros.
Seja o primeiro a comentar