Com atraso, governo tenta reduzir impacto econômico do coronavírus

Marcelo de Moraes

A equipe econômica deve anunciar, nesta segunda-feira, medidas para tentar amenizar o impacto que o coronavírus deve produzir sobre a economia do País. O movimento – que é necessário – surge com um atraso inexplicável. O efeito da doença sobre a economia internacional já vem sendo sentido desde janeiro e os casos foram se multiplicando pelo mundo afora nas semanas seguintes. Apesar disso tudo, na sexta-feira, o ministro da Economia, Paulo Guedes, falou à imprensa que em 48 horas sua equipe produziria uma espécie de pacote de medidas contra o coronavírus.

É inexplicável que, com toda a antecedência com que se esperava que o coronavírus se espalhasse pelo Brasil, apenas depois disso o governo se reuniu para pensar medidas para reduzir seu estrago. A impressão que ficou – especialmente entre os parlamentares que se reuniram com o ministro na quinta-feira para ouvir sua avaliação da crise – é que nada havia sido planejado para conter essa situação. Um parlamentar que acompanhou de perto as conversas cita que os integrantes da equipe econômica pareciam surpresos em caber a eles a tarefa de encontrar saídas imediatas para cobrir os buracos causados pela obrigatoriedade das pessoas ficarem em casa.

Como o próprio presidente Jair Bolsonaro passou os últimos dois meses minimizando o problema é o definindo como “fantasia”, não é estranho que seus principais auxiliares também não o priorizassem na sua lista de preocupação. A chave virou dentro do governo depois que o chefe da Secom, Fábio Wajngarten, foi contaminado pelo vírus durante a viagem oficial de Bolsonaro para se encontrar com Donald Trump, nos Estados Unidos. Pelo menos mais dois integrantes da delegação testaram positivamente: o embaixador do Brasil nos Estados Unidos, Nestor Foster, e o senador Nelsinho Trad (PSD-MS).

O próprio Jair Bolsonaro foi obrigado a se submeter ao teste para saber de estava infectado ou não. Apesar de todas as versões desencontradas apresentadas por integrantes do governo, o presidente disse que seu teste deu negativo. Mas, com a ficha caindo da pior maneira, e com os casos se espalhando às dezenas pelo Brasil, o governo acordou para a necessidade de tomar providências não apenas em relação à proteção da saúde das pessoas. Mas também da saúde da economia do País, ameaçadíssima pelo problema.

Depois de ter uma decepcionante primeira reunião de emergência com os parlamentares, quando ficou falando sobre a importância da aprovação das reformas, Paulo Guedes começou a anunciar algumas propostas mais concretas e de resultado mais imediato.

“Naquela reunião, ele não trouxe nada”, disse ao BRP o presidente da Câmara, Rodrigo Maia. “Falou da importância de aprovação das reformas, da privatização da Eletrobrás. Essa é uma agenda macro, importante, mas que não representa a questão mais urgente. Nós esperávamos medidas com impacto imediato. Ficou claro que ele não tinha ou não trouxe para o debate a resposta que imaginávamos que ele tivesse”, afirma.

A preocupação de deputados e senadores era com a iminente paralisação de várias atividades econômicas, por causa da decisão de evitar que as pessoas circulem e se aglomerem para evitar um maior contágio. Se as pessoas reduzem suas saídas, suas viagens, suas atividades profissionais, é óbvio que alguns setores passaram a ter sua sobrevivência ameaçada. São essas sinalizações que os parlamentares esperavam escutar de Guedes na última quinta.

Ao contrário, no dia seguinte, a surpresa aumentou por causa das declarações do ministro à Veja, afirmando que com mais R$ 3 bilhões, 4 bilhões, 5 bilhões, aniquilava o coronavírus, como se fosse uma questão tão simples assim. Apesar disso, havia a expectativa que medidas concretas fosse mais trazidas para a mesa de discussão.

“Como é que faz com o pessoal que trabalha na informalidade? Como é que vai fazer quarentena com essas pessoas? As pessoas precisam trabalhar. Elas não têm renda. Como você recompõe isso?”, questiona Rodrigo Maia.

Essa reação fez com que o governo mudasse a forma de agir e passasse a priorizar ações mais concretas e de alcance mais imediato, como a antecipação do pagamento do décimo-terceiro salário, isenção de impostos para equipamentos hospitalares e para remédios, edição de medida provisória para liberar mais R$ 5 bilhões para reforçar as ações do Ministério da Saúde, especialmente na necessidade de ampliar número de leitos, por exemplo. Outra ação poderá incluir a liberação do saque de outra parcela do FGTS e também concessão de linhas de crédito. O provável detalhamento das medidas deve ser feito na segunda.

Para Rodrigo Maia, essas ações já parecem representar, pelo menos, algum tipo de ação mais imediata. “Na quinta, o governo começou a fazer alguma coisa. Anteciparam o décimo-terceiro, isso vai botando dinheiro na rua, segurando o problema para o curto prazo. Para o cara receber o dinheiro e não precisar ir para a rua trabalhar. Porque esse é o problema. Atacar os pontos certos. Por exemplo: não adianta dizer, eu vou estimular o setor de aviação. O que adianta? Ninguém vai voar mesmo. Você tem é que estimular o fluxo de caixa dele de curto prazo para ele não quebrar. Só isso. Como é que você faz isso? Esse é o drama”.

*Jornalista. Editor do BR Político, site de política do jornal O Estado de S.Paulo.

Fonte: https://brpolitico.com.br/brp-fique-de-olho/relatorio-semanal-16032020/

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