G1 – A estação Pedro II, da Linha 3- Vermelha do Metrô de São Paulo, tem um mistério que intriga passageiros desde a sua inauguração, em agosto de 1980. Dentro do vão em uma enorme claraboia no saguão principal da estação, é possível ver uma “plataforma fantasma”, por onde nunca passou nenhum vagão.
O acesso foi construído com base no primeiro traçado do Metrô, que começou a ser projetado em 1968. Nesse modelo inicial já estavam as quatro principais linhas: 1-Azul, 2-Verde, 3-Vermelha e 4-Amarela. De todas elas, a que mais mudou foi a Linha 4-Amarela, que era bem diferente do que é hoje em dia.
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Originalmente, a linha seguiria dois ramais: um até a Zona Leste, na Vila Bertioga, depois da Mooca; e outro até a Zona Sul, na Rodovia Anchieta. E aí que vem a importância dessa “plataforma fantasma”: ela seria justamente o ponto de integração entre esses dois ramais que nunca existiram.
Apesar de estar há mais de 40 anos sem uso, o Metrô acredita que a plataforma pode, sim, entrar em operação um dia.
“Esse possível ramal foi desativado, mas a linha em direção ao Ipiranga continua nos planos futuros. Com certeza essa plataforma ainda pode ser utilizada”, explica Epaminondas Duarte Jr., chefe do Departamento de Planejamento e Anteprojetos de Engenharia do Metrô.
A “plataforma fantasma” é mal-assombrada?
Muita gente acha que a plataforma é fantasma ou mal-assombrada. Mas ali naquele espaço funcionou por mais de quatro décadas um local de armazenamento e almoxarifado de materiais e equipamentos para obras da rede metroviária. Andando por lá é possível encontrar um tótem antigo do Metrô, acessos de escada abandonados e parte de ferragem que já foi usada um dia, o que pode dar um aspecto sinistro.
“Não tem nada de fantasma. Realmente é uma estação grande porque seria uma integração, atenderia a uma demanda muito grande. Então as pessoas passavam e falavam ‘Ah, tem fantasma’. Não tem nada de mal-assombrado. É uma construção normal, inclusive, uma construção muito bem-feita”, garante o engenheiro do Metrô Epaminondas Jr ao Antena Paulista.
O Metrô de São Paulo completou no sábado (14) 50 anos de operação. Desde 14 de setembro de 1974 os paulistanos podem contar com a rede metroviária para ir e vir pela cidade. Ao longo desse tempo os traçados das linhas foram se adaptando à demanda e ao crescimento populacional da capital paulista e, nessas construções, muitas histórias e mistérios como esse foram surgindo.
Abrigo solidário
Depois de quatro décadas, a plataforma, projetada para receber milhares de passageiros, teve o seu destino cumprido, pelo menos em parte. Diferente do cenário comum de uma estação com embarque e desembarque de trens, o propósito é bem nobre.
Nos dias mais frios, desde 2021, ela se torna um abrigo solidário para receber pessoas em situação de rua que moram no centro da cidade, na região do Brás.
“Com as baixas temperaturas a gente percebeu que tinha uma possibilidade de abrigar quem está numa situação vulnerável e proporcionar um suporte nas noites mais frias. Então hoje a gente abre o espaço disponibilizando camas, colchões, cobertores, alimentação na entrada e na saída”, explica Gildo Prado, chefe do departamento das estações do Metrô SP.
Ao todo mais de 2.000 pessoas já passaram pelo abrigo na plataforma subterrânea da estação Pedro II. Neste ano o espaço foi montado algumas vezes com esse objetivo. A última vez no fim de agosto durante a frente fria que atingiu a capital paulista.
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