Desde que passou a ser confrontado com o aumento da destruição da Amazônia, o presidente Jair Bolsonaro não parou de espernear e de procurar um inimigo externo que pudesse culpar pelo problema.
Acusou sem provas as organizações não governamentais pelos incêndios na floresta, tentou desviar o foco reclamando da caça às baleias na Noruega, pôs em dúvida os dados que atestam o desmatamento.
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E o mais grave: atirou no mensageiro ao exonerar o cientista Ricardo Galvão do cargo de diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que calcula os dados de desmatamento.
Bolsonaro diz que está preocupado com a soberania nacional. Afirma que os países ricos querem se apossar das riquezas da Amazônia -o mesmo discurso que fazia nos tempos em que era um deputado inexpressivo do baixo clero da Câmara.
Suas mais recentes declarações sugerem uma nova paranoia presidencial: a gritaria contra o aumento das queimadas na Amazônia não passa de um complô internacional para desestabilizar seu governo e derrubá-lo.
O problema é que os fatos são teimosos. Nesta semana, simplesmente escureceu no meio da tarde em São Paulo, em parte por causa das queimadas na Amazônia. As assustadoras imagens do céu negro na maior cidade do país voltaram a chamar a atenção do mundo para o tema.
Políticos e celebridades protestaram nas redes sociais, culminando com um pedido do presidente francês Emmanuel Macron para que o G7, grupo dos sete países mais ricos do mundo, avalie a questão.
Mesmo que os Estados Unidos, liderados por Donald Trump, sejam omissos sobre o assunto, os países europeus tem muitas formas de pressionar o Brasil. Barreiras comerciais são certamente a mais perigosa delas.
O agronegócio já sentiu o golpe e passou a reclamar abertamente da postura do governo brasileiro. Representantes do setor dizem que estão em risco décadas de trabalho para evitar bloqueios às exportações.
Na soja, por exemplo, existe um sistema de rastreabilidade que garante ao comprador que o grão não é oriundo de área desmatada. Só que, para funcionar, o sistema precisa dos mesmos dados de desmatamento cuja credibilidade vem sendo colocada em xeque pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.
Aqui fica a pergunta: o que pode acontecer se os importadores passarem a duvidar das informações que vem do Brasil?
Após a crítica do colega francês, Bolsonaro finalmente tomou uma medida na direção correta ao convocar uma reunião ministerial nesta sexta-feira (23) para combater as queimadas na floresta. É bom que saíam dali medidas concretas.
*Raquel Landim
Jornalista especializada em economia, é autora de ‘Why Not’, sobre delação dos irmãos Batista e a história da JBS.
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