Antes das concessões serem promovidas pelo Governo Federal, na metade da década de 90, a competitividade da malha ferroviária brasileira estava fortemente comprometida.
Pelos cálculos da Associação Nacional de Transportadores Ferroviários (ANTF), o cenário encontrado pelas empresas era de um déficit anual de US$ 100 bilhões, o que contraria o montante de investimentos promovido pelo setor privado entre 1997 e 2003, estimado em R$ 6,31 bilhões. A informação é confirmada pelo secretário-geral do Ministério dos Transportes, Paulo Sérgio Passos: segundo o titular da pasta, em 1994 a Rede Ferroviária Federal (RFFSA) tinha 44,6 mil funcionários. As 12 empresas do setor empregam, hoje, 23 mil pessoas.
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“O número de empregados diminuiu, mas a produtividade aumentou. De 2003 para 2004, houve um crescimento de 9,3% na movimentação de cargas. No ano passado, essa quantidade foi de 206 bilhões de TKU (toneladas por quilômetro útil)”, comparou o secretário. Anualmente, cerca de R$ 350 milhões são pagos pelas empresas, a títulos de concessões e arrendamentos à União. Todavia, as concessionárias reclamam que não há o retorno equivalente em investimentos na malha ferroviária. O diretor executivo da ANTF, Rodrigo Vilaça, calcula que sejam necessários aplicar R$ 4,2 bilhões em reestruturação.
“Em setembro de 2003, a previsão era de que o setor precisasse de R$ 626 milhões para solucionar os problemas nas passagens de nível e faixas de domínio”, citou Vilaça. O diretor da associação alega que existem 3 mil quilômetros de ferrovias sem utilização, devido às dificuldades geográficas encontradas pelas administradoras. Ao todo, há 28,3 mil quilômetros sob controle do setor privado.
“Temos a urgência de explorar o interior do Brasil e construir mais corredores até os portos. Assim, as linhas de cabotagem (rotas marítimas nacionais de navegação) seriam melhor utilizadas. A produção de soja, por exemplo, tem muito potencial para crescer”, detalhou Vilaça, lembrando ainda do açúcar, do cimento e das cargas conteneirizadas.
Questionado sobre os recentes investimentos da União em prol das ferrovias, o secretário do Ministério, Paulo Sérgio Passos, argumentou que boa parte dos R$ 176 milhões separados no Orçamento Geral da União (OGU) deste ano foi empenhado, além dos investimentos previstos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Para 2006, a previsão é de liberar R$ 223 milhões. “Temos uma série de obras, incluindo a construção de pontes, viadutos e novos contornos”. A cifra, contudo, não impressiona o empresariado. “Desse valor, R$ 150 milhões é para a ferrovia Norte-Sul, uma obra pública. E a verba do BNDES é emprestada”, rebateu.
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