Cena comum em grandes cidades do país, as favelas e moradias irregulares que se aglomeram à beira das ferrovias atingiram magnitude surpreendente até mesmo para quem já se acostumou a ver barracos próximos aos trilhos. Hoje há 824 focos de invasão só nas linhas de trem de carga do país, onde vivem cerca de 200 mil famílias — população equivalente à de Duque de Caxias. Por segurança, a lei exige uma faixa de 15 a 25 metros desocupada em torno dos trilhos. Mas levantamento feito pela Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF) constatou, entre essas 824 invasões, barracos a apenas 30 centímetros da linha de trem.
A situação se tornou mais crítica com a expansão do transporte ferroviário nos últimos anos. No rasto das exportações, o volume de cargas deslocado por ferrovias cresceu de 162 bilhões de toneladas por quilômetro em 2001 para 225 bilhões este ano, um aumento de 40%. Quanto maior o fluxo, mais risco de acidentes. É o avanço exportador do agronegócio a caminho do porto esbarrando no caos urbano das cidades.
—Estamos chegando ao limite. As empresas investiram muito em vagões e locomotivas, e as linhas agora estão congestionadas. É preciso remover gargalos, como as moradias irregulares —diz Paulo Fernando Fleury, coordenador do Centro de Estudos em Logística da Coppead/UFRJ.
Perda de 30% na produtividade
Alheios aos entraves logísticos da economia brasileira, os moradores de Vila Arará, favela em Benfica encostada na linha de trem, não vêem a hora de serem removidos de lá. Jacira Magalhães de Oliveira quer convencer o marido a usar a indenização prometida pela prefeitura para voltar a sua cidade natal, Reriutaba, no Ceará. Há 16 anos no Rio, ela mora numa casa de alvenaria a cinco passos do único acesso ferroviário ao Porto do Rio. Por medo de acidentes, mantém o filho mais novo, Igor, de 5 anos, trancado em casa. O menino ainda lamenta a morte de seu gatinho de estimação, atropelado por um trem.
—Tenho muito medo do trem. Mas se for pagar aluguel, não tenho dinheiro para comer — explica Jacira.
Vila Arará é considerado um dos casos mais críticos, mas está em vias de ser solucionado. Convênio recém-assinado pela prefeitura com os ministérios das Cidades e dos Transportes prevê a liberação de R$ 4,7 milhões para indenizar 290 famílias. E a MRS Logística — que opera 1.674 quilômetros de malha no Sudeste do país — vai construir um muro para impedir novas ocupações. O diretor-executivo da ANTF, Rodrigo Vilaça, afirma que 99% das invasões ocorreram antes de 1996, quando o governo iniciou as concessões da malha ferroviária à iniciativa privada. As empresas, hoje, redobram a atenção. A Ferrovia Centro Atlântica (FCA), que atravessa sete estados e o Distrito Federal, contou este ano 97 novas tentativas de assentamentos, evitadas via negociação com a comunidade.
—Também buscamos parcerias com governos locais. Em Contagem (MG), estamos negociando um convênio para remover 230 famílias do bairro Vila Beatriz. E temos uma campanha educativa para alertar sobre os riscos — explica o diretor de Operações da FCA, Eduardo Bartolomeo.
Segundo o diretor-presidente da Brasil Ferrovias, Elias David Nigri, quanto mais perto dos centros urbanos, maiores as áreas de invasão. Criada em 2002, a holding controla a operação de 4.400 quilômetros de trilhos em São Paulo e no Centro-Oeste.
—É um problema social que depende de ação conjunta dos governos municipal e federal. Um país que quer exportar precisa se preparar — diz.
As invasões causam prejuízo direto ao escoamento das exportações. A velocidade média dos trens de carga, que é de 40 quilômetros, precisa ser reduzida para cinco quilômetros por hora nos trechos mais críticos, aumentando o tempo de deslocamento e da chegada da carga ao porto. A MRS calcula uma perda de 30% na produtividade com essa redução forçada de velocidade. Segundo o presidente da empresa, Júlio Fontana Neto, além das invasões, há no país um ex
Quando a favela atravessa o trilho
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