A vida de quem vê o trem passar próximo demais

A adaptação do ser humano às dificuldades do cotidiano tem limites. Milhares de famílias da área urbana de Natal convivem momentaneamente com a passagem de um trem de 200 toneladas, em velocidade média de 80km/h passando, muitas vezes, a um metro e meio de suas casas e cerca de 12 vezes ao dia. A explicação de que ‘‘já virou costume’’ é unânime entre os moradores, mas os acidentes continuam ocorrendo.A reportagem do Diário de Natal percorreu três pontos críticos da cidade para retratar a rotina dessas pessoas. Sem alternativas na maioria das vezes, elas invadiram desordenadamente a área ao longo das décadas para fincar moradia. E desobedeceram a Lei Federal nº 6.766/79, que reza a permissão para construção de casas com pelo menos 15 metros de distância do trilho.


Ao todo são cerca de 30 quilômetros de linha em Natal. Sem Lei de Plano Diretor na época ou atenção do poder público, o problema agigantou-se. Hoje, a irregularidade já constatada pelo Ministério Público Federal virou briga judicial contra a prefeitura, que se arrasta nos tribunais sem prazo para resultado. Alheia às burocracias da justiça, a doméstica Maria Cristina de Lima, 36, continua sua rotina de mãe de seis filhos. Ela mora na favela do Mosquito, no bairro das Quintas, paralela à Avenida João Medeiros Filho. A Rua Potengi, da largura de um carro, é o espaço que separa sua casa e tantas outras daquela favela, da barreira de três metros aproximados, onde passa o trem.


Dos seis filhos de Maria Cristina, cinco são crianças. Lúcio Flávio é o terceiro. Hoje tem 11 anos, mas com 1 ano foi vítima do trem. Enquanto Maria Cristina preparava o almoço para o marido levar no dia seguinte para o trabalho, o pequeno Lúcio saiu despreocupado e inocente rua a fora. ‘‘Foi um descuido. Quando senti falta fui atrás. Quando ouvi o barulho do trem até pensei o pior, mas sem acreditar muito’’, disse a mãe. Verdade é que o trem atingiu a criança. ‘‘Como ele era pequeno a quina do vagão pegou a cabeça dele. Se fosse maior tinha matado. Mas foi sangue, viu?’’, lembra Maria Cristina. Segundo ela, o maquinista parou o trem e pediu socorro na estação. Lúcio Flávio exibe hoje apenas uma cicatriz, como recordação indesejada.



Quando perguntada se o medo ainda persiste com seus outros filhos, a mãe disse: ‘‘Sempre temos, né? O risco sempre existe. Olha aquele menino ali (aponta para uma criança de aproximadamente 10 anos em cima do trilho). Ele está distraído agora, e ele tem deficiência mental. Mas nós aqui já acostumamos. Meus filhos já sabem a hora do trem e evitam’’. A opinião é compartilhada pela mãe, a aposentada Lizete Lima da Silva, 65. Sua reclamação é constante, mas não é sobre o perigo do trem. ‘‘Olha, quando chove isso fica tudo alagado…’’. – E o trem, não incomoda? A senhora não tem medo? ‘‘Nada. Isso eu já estou acostumada. O aguaceiro é tão grande que, pra se ter idéia, cavo uma vala nessa barreira pra água escorrer…’’, e segue a reclamar das chuvas, como se o trem fosse mero detalhe.


Lizete Lima lembra ainda quando chegou na favela do Mosquito aos 14 anos. Segundo ela, já havia casas na área, mas todas de taipa. Nos idos da década de 60, lembra, é que iniciaram as construções de alvenaria. Mas a arquitetura de muitas das casas são ainda do Brasil colônia; casas conjugadas e sem teto, em cores coloridas, desgastadas pelo tempo, a comprovar a época remota da ocupação daquela área. E já com tantos anos no mesmo local, a aposentada, como outros moradores, afirma que prefere ficar ali. ‘‘Aqui vem gente vendendo fruta na porta de casa, fica perto do posto médico, que é bom porque meu marido é doente…’’. A dona-de-casa Eliane Lima, 30, acrescenta que muitos ali dependem da pesca artesanal no rio Potengi, ali nas proximidades e que a convivência entre os vizinhos também fortalece a ligação com o lugar.

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Fonte: Diário de Natal

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