As concessionárias de ferrovias pretendem investir R$ 2,351 bilhões em 2006. O valor já foi aprovado pelos conselhos de administração das empresas e deve superar o recorde deste ano, de R$ 2,1 bilhões. Os investimentos anunciados para os próximos 12 meses serão feitos na recuperação e conservação de trilhos (47% do total), na compra de pelo menos 200 locomotivas e 6,7 mil vagões. As projeções não levam em conta verbas programadas para a construção da Nova Transnordestina, da Norte-Sul nem os recursos advindos da reestruturação da Brasil Ferrovias.
O diretor-executivo da Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF), Rodrigo Vilaça, destaca que esta será a primeira vez em que haverá forte investimento das concessionárias em ano de eleições presidenciais. Em 1998, logo após o início da desestatização do setor, as empresas colocaram temporariamente o pé no freio. Em 2002, a crise econômica também restringiu os desembolsos. “No ano que vem vamos investir mais, não importa quais sejam os desdobramentos políticos”, diz Vilaça, porta-voz das concessionárias. “A decisão já está tomada.”
Como exemplo dos investimento planejado, o executivo cita a encomenda feita pela MRS Logística, detentora de uma malha de 1.674 quilômetros na região Sudeste, de 50 locomotivas novas. A aquisição foge dos padrões mantidos pelo setor ao longo dos últimos anos, que tem optado tradicionalmente por máquinas usadas, em sobra no mercado americano, por até US$ 200 mil a unidade, para posterior remodelação no Brasil. As locomotivas novas, encomendadas à General Electric, saíram por US$ 2 milhões cada uma e as 20 compras firmes devem ser entregues no segundo semestre de 2006.
A permanência dos investimentos das concessionárias em níveis acima de R$ 2 bilhões anuais tem feito um setor inteiro renascer das cinzas. É a constatação que faz o presidente da Associação Brasileira da Indústria Ferroviária (Abifer), Luis Cesário Amaro da Silveira. Segundo ele, a indústria chegará ao fim de dezembro com 7,5 mil vagões produzidos e faturamento de R$ 2,4 bilhões. No ano passado, os números foram bem mais modestos, apesar de já constatada uma forte tendência de recuperação: tinham sido 4,6 mil vagões e R$ 1,4 bilhão de faturamento.
“Estamos batendo recordes”, comemora Silveira. Para o ano que vem, ele prevê a manutenção dos números registrados em 2005. Não é nada mal, ressalta o executivo, para quem saiu de mais de 5 mil vagões anuais produzidos na década de 70 para algo próximo de zero na “década de horror”, os anos 90, quando empresas fecharam as portas por absoluta falta de encomendas.
O setor tem capacidade instalada para produzir 12 mil vagões por ano e vem conquistando importantes clientes no exterior, apesar da valorização do real. As exportações respondem por apenas 5% da produção, mas já foram vendidos 180 vagões para o metrô de Santiago (Chile) e 660 caixas de aço inoxidável (carrocerias) para o metrô de Nova York. A indústria agora avança sobre mercados como Venezuela, Guiné-Bissau e Gana.
Rodrigo Vilaça diz que os investimentos devem assegurar o aumento da participação do setor ferroviário na matriz de transportes. De apenas 18% em 1996, as ferrovias já respondem por 26% do transporte de cargas em 2005 e pretendem elevar essa proporção ano a ano, até atingir 30% em 2008. “Aí esgotamos a nossa criatividade”, afirma Vilaça, lembrando que o percentual ainda é baixo para padrões internacionais e só pode ser aumentado com a expansão da malha ferroviária e a solução para gargalos, como o alto índice de invasões de faixa de domínio e de passagens de nível, que obrigam os trens a reduzir velocidade, sobretudo nos centros urbanos.
Segundo a ANTF, seis governos estaduais (Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e Tocantins) planejam desenvolver projetos de engenharia para expandir as ferrovias. O setor também aposta na concessão do trecho Araguaína-Palmas da Norte-Sul. Vilaça
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