A discussão sobre as ineficiências logísticas enfrentadas no Brasil e no Grande ABC continuam. Maurício Pimenta Lima, mestre em engenharia de produção pela Coppe da UFRJ e pesquisador do Centro de Estudos em Logística, coloca mais fogo na fogueira. Em sua opinião, o país sofre com a superutilização do transporte de carga por rodovias. Boa parte da culpa é do governo que, além de não investir em infra-estrutura, não cria condições para que a iniciativa privada o faça.
DIÁRIO – Existe muita confusão sobre o que é custo logístico e o que é custo de transporte. Qual a diferença?
LIMA – Eles se complementam. Na verdade o custo do transporte é o mais relevante dentro do custo logístico. Na logística, temos que considerar três contas: transporte, estoque e armazenagem.
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DIÁRIO – Dentro do custo de transporte. Qual o modal mais caro?
LIMA – Se formos comparar os modais entre si, o mais caro sempre será o aéreo. No Brasil, o rodoviário é relativamente barato. O problema é que, mesmo assim, ele é muito mais caro do que os outros modais como o ferroviário, o aquaviário ou o dutoviário. Em outras palavras, o custo rodoviário no Brasil é muito barato quando comparado a outros países, mas é muito caro quando comparando com outros modais.
DIÁRIO – Por que não explorar as demais alternativas?
LIMA – O problema é que a gente sofre com a falta de infra-estrutura, então acabamos superutilizando o rodoviário, que representa 60% da matriz brasileira.
DIÁRIO – Essa sobrecarga na matriz é prejudicial para a economia.
LIMA – A conseqüência é sentida por quem trabalha com o transporte. Um transportador autônomo, por exemplo, trabalha com margens muito baixas e custos muito altos. Só para se ter uma idéia, um terço da receita do frete é consumida com o diesel. Para o embarcador – a empresa que está mandando a carga – também é ruim porque ele tem pouca disponibilidade de modal. Então uma carga que poderia ser transportada por ferrovia, com custos reduzidos, vai por rodovia porque não existe outra alternativa. No Brasil os modais são utilizados de forma errada.
DIÁRIO – Exemplos práticos?
LIMA – O desabastecimento da Bacia de Campos é um bom exemplo. Poderíamos usar dutos para transportar o óleo, mas sem essa possibilidade, usamos o transporte aquaviário. Já as cargas que poderiam ser movimentadas por navegação de cabotagem seguem pelas estradas. Uma alternativa seria a ferrovia, mas enfrentamos uma carência muito grande de linha. Para diversificarmos a matriz é preciso investimento.
DIÁRIO – Mesmo com as privatizações, as ferrovias não conseguem atender a demanda nacional?
LIMA – A ferrovia depois que foi privatizada melhorou muito, mas o investimento se concentrou em compra de material rodante, como vagões e locomotivas. Não em linhas.
DIÁRIO – Por que?
LIMA – Porque os recursos necessários na ampliação das linhas são muito mais elevados e porque o próprio modelo de concessão estabelecido na privatização não viabiliza esse tipo de investimento. Além dos juros altos cobrados sobre o capital de investimento, no Brasil, ao final da concessão todo esse ativo deixa de ser da empresa que está operando e volta para o governo para uma nova concessão. Então é um modelo que não viabiliza investimento público e nem privado em linha. As ferrovias hoje movimentam mais cargas, tornaram-se operações lucrativas, mas sofrem com a falta de investimento na estrutura. Adotamos um modelo de concessão limitado.
DIÁRIO – Qual a conseqüência dessa limitação?
LIMA – Se a economia crescer 4% durante quatro anos consecutivos, provavelmente não atenderemos essa demanda. O país irá parar por falta de infra-estrutura.
DIÁRIO – Estamos reféns do governo?
LIMA – É. Para se ter uma idéia, A Coppead fez uma pesquisa sobre os principais entraves às exportações brasileiras. E por incrível que pareça, para grande parte das empresas o
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