A indústria brasileira vai fabricar cerca de 4.000 vagões neste ano, uma queda de 47% em relação ao ano passado. Apesar da retração, o número não é considerado ruim pelo setor, que esteve praticamente morto nos anos 90, mas poderia ser melhor não fosse a crise do campo.
“A safra agrícola e o minério de ferro são os fatores que impulsionam a demanda”, diz o presidente da Associação Brasileira da Indústria Ferroviária (Abifer), Luis Cesário Amaro da Silveira.
Ele lembra que na década de 1990 a média anual de produção era de 100 unidades. Em 2000 e 2001 o setor ensaiou uma reação e chegou à casa dos 1.000 vagões produzidos em um ano pela primeira vez, desde a década de 1980.
Segundo Silveira, em 2007 a indústria deve se manter no mesmo patamar de 2006. “Nos últimos anos as empresas fizeram grandes aquisições e agora elas devem esperar um aumento de demanda antes de fazer novas encomendas”, afirma.
“Se a crise do campo terminar, ajuda muito”, diz. A Cooperativa Mineira de Equipamentos Ferroviários (Coomefer) tem a mesma expectativa.
A empresa surgiu da união de antigos funcionários da Santa Matilde, que chegou a empregar 1.300 pessoas em Conselheiro Lafaiete, a 100 km de Belo Horizonte, na década de 1970.
Depois do auge, a empresa fechou as portas em 1980 e permaneceu inativa praticamente até 2001 (houve uma tentativa mal-sucedida de reativação em 1996).
Cooperativa Há cinco anos, um grupo de 22 funcionários se organizou em cooperativa e colocou as máquinas novamente para funcionar. “Eu vi essa indústria crescer, vi morrer e vi nascer de novo”, diz o diretor-presidente da Coomefer, Edmundo do Nascimento, que ingressou na Santa Matilde há 50 anos.
Ele conta que graças ao “boom” de investimentos no setor ferroviário, a produção da cooperativa foi crescente até este ano. Em 2005, a Coomefer fabricou 560 vagões, mas este ano a cooperativa não produziu uma unidade sequer e vem se mantendo com a reparação de máquinas.
Houve redução no número de empregados, de 680 para 250, mas perto da situação pela qual a empresa passou há menos de uma década, o cenário não é desanimador.
“Em um setor que passou 30 anos sem investimentos, o fato de existirem máquinas para serem reparadas já é uma vitória”, afirma Nascimento. Segundo ele, em 2007 a produção deve ser retomada porque algumas empresas já sinalizaram que devem voltar a comprar vagões.
Luis da Silveira, da Abifer, lembra que quando a produção de vagões entra nos trilhos, puxa outros setores. “O vagão é a montagem final. Antes dele, tem a fabricação de roda, sistema de freios, engate”, afirma. Hoje a indústria ferroviária emprega 25 mil pessoas no Brasil, quase todas contratadas nos últimos três anos.
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