As concessionárias da malha ferroviária nacional — após dez anos das privatizações do setor e R$ 11 bilhões em investimentos realizados — estão mudando gradativamente seu foco de atuação e transportando um volume crescente de cargas de alto valor agregado. Assim, elas estão ganhando mais com o frete atendendo clientes que, até então, utilizavam exclusivamente as rodovias para escoar a produção.
De acordo com pesquisa do Centro de Estudos de Logística da Universidade Federal do Rio de Janeiro, de um universo de 111 empresas pesquisadas, 9,2% afirmaram que têm como objetivo elevar o escoamento por ferrovias em um período de três anos. “As concessionárias estão procurando usar cada vez mais a intermodalidade para agregar valor ao serviço e realizar novas operações comerciais”, explica Rodrigo Vilaça, diretor da Associação Nacional do Transporte Ferroviário (ANTF). “Trabalhar com cargas de alto valor agregado é o grande foco do setor até 2010”, completa.
MRS
A MRS é uma das empresas atentas a este movimento de mercado e está se voltando cada vez mais às cargas de alto valor agregado. O movimento de contêineres representa hoje 5% da receita da companhia. A meta é que este percentual atinja os 15% até 2010. “Esta é uma atividade que consideramos vital para que possamos diminuir a vulnerabilidade inerente ao transporte de commodities”, afirma Júlio Fontana Neto, presidente da MRS. No primeiro semestre do ano, a empresa registrou uma alta de 11% no transporte de contêineres, em relação ao mesmo período de 2005.
O incremento no transporte de cargas por contêineres é parte da estratégia traçada pela companhia até 2010, quando deverá concluir um aporte de US$ 1 bilhão. Este valor inclui o investimento de US$ 150 milhões em um terminal no Porto de Santos com capacidade para movimentar 350 mil TEUs (twenty-foot equivalent unit, medida internacional de um contêiner de 20 pés) por ano.
ALL
A ALL Logística também enxerga uma janela de crescimento nas cargas de alto valor agregado. No primeiro semestre do ano, o transporte dos produtos industrializados teve uma participação de 26% na receita bruta de R$ 689 milhões.
A concessionária inaugurou este ano dois terminais na Região Sul voltados especificamente para a movimentação de contêineres refrigerados.
A operadora, que já atende a Sadia, agora conquistou a Seara como cliente. Esta será a primeira vez que a empresa frigorífica escoará sua produção por via ferroviária e com isto espera uma redução de 15% nas despesas com frete. As aves e suínos congelados seguirão de trem até o Porto de Paranaguá, de onde serão embarcados principalmente para a Europa e o Oriente Médio.
“As ferrovias podem ser uma alternativa de transporte para os clientes. Há espaço para elas conquistarem mercado no segmento de produtos frigorificados e autopeças”, aponta o diretor da ANTF. Na indústria automotiva, ele cita Ford e Volkswagen, que escoam a produção, para o Rio de Janeiro e Bahia, por via férrea.
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