O Brasil perde por ano R$ 46 bilhões devido à precariedade do sistema de transportes. Estradas esburacadas, ferrovias sucateadas, portos saturados, caos nos aeroportos. O cenário é de apagão logístico, segundo especialistas. E pode piorar. Impedir, por exemplo, a comida de chegar à mesa dos brasileiros. E os brasileiros de chegar às suas casas. Está sob ameaça o direito fundamental de ir e vir assegurado pela Constituição Federal.
A falta de transporte pára o Brasil, avisa o diretor do Centro de Estudos em Logística da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Paulo Fernando Fleury. Se houver um colapso e os caminhões pararem, em quatro ou cinco dias faltará comida na mesa dos brasileiros.
O prejuízo anual provocado pelos gargalos em transportes é 3,5 vezes maior do que os investimentos da União no setor entre janeiro de 2003 e novembro deste ano – R$ 13,5 bilhões. Além disso, é mais de cinco vezes superior ao orçamento do Bolsa Família. O principal programa de transferência de renda do governo distribuirá R$ 8 bilhões para 11 milhões de famílias em 2006.
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Estamos em meio a um apagão logístico que só não é total porque o Brasil cresceu pouco, diz o presidente da Seção de Cargas da Confederação Nacional do Transporte (CNT), Flávio Benatti. O crescimento de 5% (prometido pelo presidente Lula) com a infra-estrutura que temos é impossível.
O ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passo, nega a iminência do colapso. Diz que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cumprirá a promessa de priorizar a infra-estrutura no segundo mandato. A conferir. Hoje, as faces mais visíveis do problema para o cidadão comum são a insegurança das viagens de carro e ônibus e o desconforto das intermináveis horas de espera nos aeroportos. O apagão logístico pode ser um fardo ainda maior a pesar no bolso da população e dos empresários.
A inexistência de uma estrutura adequada para escoamento da produção dá, a cada dia, mais fôlego à possibilidade de crise de desabastecimento. Um dos reflexos, caso consumada, será o aumento dos preços das mercadorias. O que os passageiros estão sofrendo com a crise nos aeroportos as cargas já sofrem faz muito tempo, afirma o presidente da Associação Brasileira de Infra-Estrutura e Indústria de Base (Abdib), Paulo Godoy. A diferença é que contêiner não reclama.
Fundamentais para acelerar o crescimento da economia, empresários enfrentam dificuldade para embarcar cargas. De cada dez que tentam transportar produtos por ferrovias, apenas seis conseguem. A saturação dos portos também é visível. Pelo Porto de São Luís (MA), agricultores pretendiam exportar 3,5 milhões de toneladas de grãos. Com receio de a capacidade do porto ser insuficiente, levaram 1,5 milhão por estradas deficientes até o Porto de Santos. Resultado: mais custo e menos competitividade.
Isso deprime muito o preço da soja, reclama Luiz Antônio Fayep, consultor em logística da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), sobre o apagão logístico. – O produtor paga metade do que ganha em frete.
Segundo a entidade, o agronegócio perde por ano R$ 2,7 bilhões em grãos que ficam pelos caminhos do escoamento da produção. De 1996 até 2002, foram 28 milhões de toneladas de grãos desperdiçados. Já transportadores e exportadores têm prejuízo de R$ 17 bilhões a cada ano devido transporte ruim.
Os desafios da ferrovia são as invasões; dos portos, o acesso
Uma dona de casa de Santos (SP), debruçada na janela, oferece xícara de café ao maquinista do trem que tenta chegar ao porto da cidade. Parece cena de filme, mas é real. Hoje, há 843 invasões – construções erguidas nas bordas de ferrovias – nos mais de 29 mil quilômetros da malha ferroviária, segundo a Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF). No caso dos portos, um dos principais desafios é o acesso. Em época de escoamento de safra, o cenário é conhecido: filas de caminhões esperando a vez p
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