O deslizamento de terra no canteiro de obras da Linha 4 (Amarela) do Metrô foi provocado por uma série de fatores. Parte deles está mesmo relacionada à instabilidade do solo nas proximidades do Rio Pinheiros. Mas, segundo especialistas, equívocos na estimativa de pontos de drenagem dentro dos túneis e de posicionamento do guindaste junto ao poço vertical também podem ter contribuído para o desabamento. ´Um acidente dessas proporções nunca tem um único motivo. Há várias explicações, mais ou menos como acontece em um desastre aéreo´, compara o diretor do Departamento de Engenharia Civil do Instituto de Engenharia, Roberto Kochen.
Uma das hipóteses levantadas por ele coincide com a justificativa apresentada pelo Consórcio Via Amarela – de que as chuvas causaram uma ´reação anômala e inesperada no maciço de terra´. À medida que avançam as escavações, explica o engenheiro, é preciso instalar pequenos drenos, para que a umidade do solo seja escoada. ´É possível que os técnicos tenham dimensionado o número de drenos para uma situação normal – tive a informação de que encontraram pouca água durante as escavações. Mas as chuvas da semana passada devem ter deixado a terra mais pesada e com infiltrações.´
Para o geólogo Wilson Scarpelli, é possível que o posicionamento da grua no canteiro de obras tenha colaborado para o surgimento de rachaduras no teto da estação, detectadas pelos operários no dia anterior ao desabamento. Por ter sido uma área de várzea, o subsolo nas imediações do Rio Pinheiros é composto por uma camada de areia e argila e, logo abaixo, por rochas mais duras, chamadas de gnaisse. Com o passar do tempo, essa massa vai se decompondo e, com isso, torna-se instável. ´O túnel do metrô atravessa justamente essa camada´, diz Scarpelli.
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O problema, diz ele, é que guindaste foi colocado sobre o mesmo terreno, fixado numa fundação de 18 metros de profundidade. ´Esse pilar é o que dá sustentação à grua, para que ela possa içar os objetos pesados. Mas, por estar num solo ´frágil´, sua operação pode ter provocado pequenos deslocamentos no subsolo, suficientes para abrir as rachaduras.´
Por esse motivo, diz ele, a cratera se formou apenas ao lado da grua, mantendo intacta a borda vizinha às pistas da Marginal. Ainda segundo ele, o consórcio responsável pela obra não pode alegar que houve ´surpresa geológica´. ´O máximo que pode ter ocorrido ali é uma descontinuidade. Só que todos esses aspectos previsíveis.´
Na opinião do engenheiro Jacques Pennewaert, as fotos do local do acidente passam a impressão de que as paredes do poço tinham pouca espessura. ´Não estive lá para fazer medição, mas acho que isso teria de ser analisado.´ Funcionários do Metrô explicam que as paredes são primeiro revestidas com telas e fibras de aço. Sobre essa estrutura, os operários aplicam diversas camadas de concreto, que aderem ao terreno.
Pennewaert cogita ainda a possibilidade de a ruptura ter ocorrido por pressão lateral, talvez provocada por acúmulo de água. ´Todo mundo sabe que o solo daquela região é ruim.´ O engenheiro compara o fenômeno ocorrido no poço vertical da Estação Pinheiros com uma latinha de alumínio. ´Se você põe todo o peso do corpo em cima, ela não cede. Mas basta um toque de lado para ela se desmanchar.´
IPT admite hipótese de falha humana
Depois das primeiras observações no local do acidente, o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) começa oficialmente hoje a colher informações para a difícil tarefa de descobrir as causas da abertura da cratera no local da futura Estação Pinheiros do metrô. ´Os técnicos do IPT vão se reunir com o pessoal do Metrô para ter acesso aos projetos da obra´, disse o engenheiro civil Vahan Agopyan, diretor-presidente do órgão.
Agopyan reafirmou que ainda é cedo para levantar hipóteses, mas não descartou que possa ter havido uma falha técnica na execução do vão da estação. ´É possível que tenha ocorrido algum erro, mas, provavel
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